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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Bruna Moura conta que escapou da morte em acidente grave indo às Olimpíadas

Bruna Moura seria representante do Brasil no esqui cross country nas Olimpíadas de Inverno - Arquivo pessoal
Bruna Moura seria representante do Brasil no esqui cross country nas Olimpíadas de Inverno Imagem: Arquivo pessoal

27/01/2022 15h58

Uma semana atrás, Bruna Moura planejava acordar nesta quinta-feira (27) em Pequim, depois de dormir pela primeira vez em uma Vila Olímpica, realizando o sonho de uma carreira. Mas ela sorriu pouco depois de despertar depois de um grave acidente, ainda entre as ferragens de uma van que a levaria da Itália à Alemanha. Sentia muita dor, mas isso era uma boa notícia naquela circunstância: ela não só sobreviveu, como não perdeu os movimentos.

"Quando eu acordei do acidente, ainda lá na van, eu acordei assustada, porque acordei sentindo muita dor, vendo muita gente tentando me tirar da van. Não entendi o que estava acontecendo, estava completamente confusa. Estava dificil de respirar, doía muito, mas eu estava contente, porque eu sabia que se eu estava sentindo dor eu não tinha perdido meus movimentos. Não tinha lesionado a coluna de uma forma perigosa", contou à coluna, por telefone, ainda em um hospital em Bozano, no norte da Itália.

Nascida em Caraguatatuba (SP), mas morando na Holanda, Bruna estava na Itália quando, na segunda-feira da semana passada, dia 17, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) anunciou a convocação para os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim. Aos 27 anos, a atleta formada no ciclismo mountain bike e forjada no roller esqui havia sido chamada para disputar uma Olimpíada pela primeira vez, no esqui cross country.

No mesmo dia, porém, ela testou positivo para covid. A viagem à China, já marcada para o dia 26 (ontem), foi adiada para o dia 1º de fevereiro, para que desse tempo de ela se livrar da covid. Hoje pela manhã, recebeu na Itália uma van pedida pelo aplicativo Get Transfer, especializado em viagens de longa distância. O destino era o Aeroporto de Munique, de onde ela sairia para a Áustria e, dali, para Pequim.

O motorista era um russo radicado em Berlim. "Ele foi bem simpático comigo quando me buscou. Entramos na van, e a gente conversou pouca coisa. Eu falei que deve ser legal trabalhar dirigindo assim por muitas horas. Ao menos para mim, que gosto de dirigir. Ele disse que quando você dirige 10, 15 horas por dia, é só trabalho", conta.

Bruna ficou mexendo no celular, mas logo sentiu-se enjoada. "Ele estava dirigindo muito rápido, fazendo as curvas de maneira muito brusca", lembra. A brasileira deixou o celular de lado, descansou a cabeça e dormiu. Quando acordou, estava envolvida em um acidente. Já no hospital, sedada, soube que o motorista morreu na hora.

De acordo com relatos, ele tentou uma ultrapassagem perigosa, pela pista contrária, em alta velocidade, quando deu de frente com um caminhão. A van tombou e ainda bateu no guard rail. "Se eu tivesse sentada na frente eu também teria morrido. O que me salvou foi sentar atrás e estar com o cinto. Mesmo com cinto o impacto foi tão grande que eu quebrei o pé, o braço e a costela."

As lesões são no lado esquerdo do corpo. Foram duas fraturas no pé e o osso do antebraço foi partido em três lugares. Ela ainda quebrou três costelas e está com fortes dores no ombro, provavelmente reflexo do impacto do cinto de segurança. Nos próximos dias, assim que os médicos autorizarem, ela será transferida para a Holanda, onde tem residência e um plano de saúde. Lá, passará por cirurgias no mínimo no pé e no braço.

"Quando eu testei positivo para covid eu fiquei bem mais triste do que agora, porque agora eu sei que poderia ter sido muito pior", diz Bruna, que naturalmente está fora da Olimpíada. O COB já tinha deixado a jovem Duda Ribera, de 17 anos, de sobreaviso, porque Bruna estava com covid. Duda deve embarcar para Pequim no fim de semana para competir na segunda vaga do Brasil no esqui cross country.