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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Marinha descumpre regimento e mantém Rafaela Silva como militar após doping

A judoca Rafaela Silva com o uniforme da Marinha do Brasil em 2018 - Reprodução/Twitter @marlilbr
A judoca Rafaela Silva com o uniforme da Marinha do Brasil em 2018 Imagem: Reprodução/Twitter @marlilbr

29/10/2021 04h00

Rafaela Silva é o grande nome da equipe brasileira de judô que disputa o Mundial Militar a partir de amanhã (30) em Brétygni sur Orge, na França. Mas não deveria ser. A judoca, que volta de suspensão por doping, deveria ter sido excluída da Marinha, segundo o que determina o regimento do Programa de Atletas de Alto Rendimento (PAAR) das Forças Armadas pelo qual é contratada.

O PAAR é o programa que permite às Forças Armadas contar com atletas de elite do esporte brasileiro. Todos os anos, Exército, Marinha e Aeronáutica lançam editais abrindo vagas para "voluntários" em determinadas modalidades, dando prioridade, nos critérios de seleção, a quem tem importantes resultados internacionais. Os escolhidos firmam contratos de um ano, renováveis por oito anos, e fazem jus a um soldo.

O programa é disciplinado por uma portaria normativa assinada pelo ministro da Defesa. Quando Rafaela foi suspensa por doping, já estava em vigor a portaria 71, de 14 de agosto de 2019, que exige que o atleta contratado informe "imediatamente" à Comissão de Desportos sobre uma notificação por doping. E também exige, em caso de punição em última instância, a exclusão desse esportista do programa.

"Caso o militar seja condenado em última instância, não cabendo mais direito a recurso, deverá ser excluído do Programa, haja vista a impossibilidade de continuar desempenhando sua atividade desportiva e, consequentemente, deixar de atender aos objetivos do Programa", diz o parágrafo primeiro do artigo 13º da portaria.

Rafaela, que testou positivo para fenoterol em 9 de agosto de 2019 e foi notificada em setembro daquele ano, acabou condenada a dois anos de suspensão pelo tribunal da Federação Internacional de Judô (IJF), em pena aplicada em janeiro de 2020. Ela recorreu à Corte Arbitral do Esporte (CAS), que anunciou em dezembro a manutenção do gancho.

A judoca foi condenada em última instância e não havia mais espaço para recurso. Mesmo assim, ela não foi excluída do programa militar. Pelo contrário. Ela seguiu sendo ajudada pela Marinha, conforme disse em entrevista ao Globo Esporte no domingo passado, quando disputou uma seletiva regional dentro do CEFAN (Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes), da própria Marinha.

"O judô é a minha vida e estar aqui com a nação rubro-negra me dando todo o apoio, a Marinha do Brasil, que me deu todo o suporte no tempo em que não pude competir. Poder voltar aqui [na Marinha] e recomeçar, acho que foi um dia muito especial", disse ela.

O Olhar Olímpico procurou Rafaela e a Marinha de forma insistente desde segunda-feira (25). A judoca disse, via assessoria de imprensa, que estava concentrada para o Mundial Militar e não iria comentar. Já a Defesa inicialmente informou que havia acionado o CEFAN para entender a situação e responderia às perguntas na terça-feira. Depois disso, a assessoria do Ministério não respondeu mais os e-mails enviados pela reportagem. A coluna também procurou o advogado de Rafaela no julgamento da IJF e no CAS, Marcelo Franklin, mas ele também não respondeu às perguntas enviadas por escrito. Caso algum dos envolvidos se manifeste, esse texto será atualizado.

Rafaela, que assinou com Flamengo em setembro, quando pôde voltar a treinar dentro do sistema esportivo, compete amanhã (30) no Mundial. No domingo passado, ela venceu duas lutas contra Jéssica Pereira, sua ex-colega de clube no Reação, e ganhou o direito de representar o estado do Rio no Campeonato Brasileiro.

A equipe que disputa o Mundial Militar tem também como destaques Rafael Buzzacarini e Rafael Macedo, que disputaram a Olimpíada, e Beatriz Souza e David Moura, ambos pesos pesados. O grupo conta também com Leonardo Gonçalves, Marcelo Contini, David Lima, Willian Lima e Alexia Castilhos.