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Renan quer conversar com Maurício, mas não vê clima para ele na seleção

Renan dal Zotto, em jogo da seleção brasileira em 2017 - Alexandre Schneider/Getty Images for FIVB
Renan dal Zotto, em jogo da seleção brasileira em 2017 Imagem: Alexandre Schneider/Getty Images for FIVB

27/10/2021 21h02

O técnico Renan Dal Zotto reafirmou, em entrevista coletiva online na noite desta quarta-feira (27), que não há mais espaço para Maurício Souza na seleção brasileira de vôlei. Com contrato renovado até os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, o treinador disse ao jornal O Globo, mais cedo, que posturas homofóbicas não terão vez na equipe. Agora ele foi explícito quanto ao futuro do central, dispensado pelo Minas Tênis Clube.

"Ele é um cara que deu uma contribuição muito grande em toda nossa história, mas não podemos ser permissivos em cima da coisa que a gente mais acredita: que é a formação da equipe. Hoje não teria clima para uma convocação. Faria mal para ele e para a equipe", admitiu o treinador, que não reunirá o grupo de novo antes de abril do ano que vem.

Como os jogadores ficam em seus respectivos clubes até o fim da temporada, entre abril e maio, no momento, nenhum atleta é ligado à seleção adulta. Assim, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) havia optado por não se meter no debate sobre as postagens homofóbicas de Maurício Souza, então jogador do Minas. Ontem, soltou apenas uma nota curta, genérica, afirmando ser contra qualquer tipo de preconceito, mas sem citar o atleta presente nas últimas duas Olimpíadas.

Mas Renan Dal Zotto, técnico da equipe, surpreendeu ao dizer ao Globo, hoje, que não só não compactua com homofobia, como não há espaço para atletas homofóbicos no grupo da seleção, que tem a presença regular de um jogador homossexual: Douglas Souza. Outros gays como Maique também têm tido chance.

"A gente lamenta demais. Não cabe estarmos discutindo sobre esse assunto [homofobia]. Não era nem para ser falado sobre isso. Quando a gente fala sobre time, seleção, sentimento de grupo, a gente tem que pensar no todo. Hoje uma convocação de atleta com esse tipo de sentimento não vai ser saudável para o atleta nem para a equipe", avaliou Renan, que fez questão de dizer, na entrevista, que a relação entre Douglas e Maurício era harmônica tanto na seleção quanto no Taubaté, onde os três trabalharam.

"A gente está convivendo há cinco anos e nunca percebi, nunca um membro da comissão percebeu, qualquer ato inconveniente das partes, sempre teve um convívio muito saudável. A gente fica triste porque durante cinco anos não houve qualquer tipo de manifestação", disse Renan. Na verdade, Maurício já havia feito posts homofóbicos nas redes sociais em outras oportunidades.

"Estou muito triste e decepcionado. Não cabe uma convocação, seja quem for o profissional que tiver posturas de preconceito. Não tem como a gente incluir dentro de uma equipe que preza pelo sentimento de equipe e representa um Brasil diverso. Ele [Maurício] vai ter que olhar para dentro, repensar, porque a liberdade dele vai até o momento que não interfira na liberdade dos outros", continuou o treinador.

Renan contou que Maurício chegou a ligar para ele hoje, mas os dois não conseguiram se falar. O treinador pretende retomar o contato amanhã e aconselhar o atleta. "Ele tem os pensamentos dele. Longe de mim querer mudar as pessoas, mas o modo com que ele se posiciona, talvez tenha que repensar um pouco. Porque o mundo está virando de uma forma muito rápida. Não cabe esse tipo de postura. Ele vai ter que repensar uma série de coisas e ver que ele não pode fazer mal para ele".

Antes de pensar em voltar à seleção brasileira, o central de 33 anos, porém, tem de se preocupar em encontrar um clube. Maurício Souza foi dispensado pelo Minas Tênis Clube hoje, depois de forte pressão de patrocinadores, da torcida e da opinião pública. O clube chegou a dar ao jogador a possibilidade de uma retratação, mas Maurício não conseguiu se comprometer, pelo que apurou o Olhar Olímpico, a não voltar a manchar a reputação de clubes e patrocinadores até o fim do contrato, em maio.