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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Minas decide afastar Maurício após homofobia, e jogadores ameaçam ir embora

26/10/2021 17h11

A diretoria do Minas Tênis Clube decidiu, em reunião realizada na tarde desta terça-feira (26), afastar Maurício Souza do elenco da sua equipe masculina de vôlei. A decisão foi publicada pelo clube já à noite, quando o Minas, como havia adiantado a coluna, explicou que o jogador terá a opção de se retratar publicamente para continuar em Belo Horizonte.

A decisão foi tomada enquanto o clube estava em uma sinuca de bico. De um lado, torcedores e seus dois grandes patrocinadores, Fiat e Gerdau, cobravam uma postura rígida do Minas contra Maurício Souza. Mas, de outro, o restante do elenco defendia o colega.

Uma carta foi lida durante a reunião da diretoria, onde foi informado que o documento contaria com o respaldo de todo o elenco. O grupo defendia o direito à "liberdade de expressão" de Maurício Souza e dizia que, se o central fosse demitido, eles não continuam no Minas Tênis Clube.

Depois da publicação desta reportagem, porém, o movimento deu errado. Ao menos dois jogadores, Maique (que, conforme publicou a coluna, teria sido citado na reunião como um dos signatários) e Luciano, se negaram a assiná-la. Maique, inclusive, se pronunciou publicamente negando participação no documento. Honorato também.

O próprio William Arjona negou participação no documento, conforme foi citado na reunião, e, pelo Twitter, disse que "não compactua com o posicionamento do Maurício Souza". "Sou contrário a manifestações preconceituosos, homofóbicas ou racistas. Construí minha carreira nesses trinta anos com muita disciplina e suor, sempre respeitando as diferenças. Nunca me envolvi em polêmicas, por preservar meus filhos e minha família, que é o bem mais precioso que conquistei", escreveu.

A discussão interna no Minas é se a postagem de Maurício criticando o fato de o atual Superman nos quadrinhos ter se assumido bissexual fere a legislação contra homofobia ou se encaixa no direito à liberdade de expressão. Desde o post, em 12 de outubro, a diretoria do clube tem conversado sobre o assunto e o entendimento era que, por mais que o post fosse reprovável, não configurava crime. "Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar", escreveu o jogador.

Sem base jurídica para acusar Maurício de homofobia, o Minas não teria como demitir o jogador, que tem carteira de trabalho assinada e também contrato de imagem. Foi por isso que, ontem, ao soltar nota sobre o assunto, o Minas reprovou o post do central, mas disse que "todos os atletas federados à agremiação têm liberdade para se expressar livremente em suas redes sociais".

A nota, porém, causou mal-estar interno dentro do clube, perante à base de fãs, que tem grande presença de pessoas LGBTQIA+, e aos dois patrocinadores que, na prática, são mantenedores da equipe. Em notas públicas, Fiat e depois Gerdau exigiram que o Minas tomasse medidas concretas e urgentes. Uma reunião entre diretoria e patrocinadores está marcada para começar às 17h30, para comunicar do afastamento de Maurício.

É isso que foi decidido na reunião desta tarde, em que a diretoria estava mais uma vez dividida. Prevaleceu, porém, o entendimento de que Maurício, que já havia sido alertado para baixar o tom nas redes sociais, ultrapassou a linha da "liberdade de expressão". A decisão tomada na reunião foi que ele será afastado enquanto o clube discute juridicamente as possibilidades de romper o contrato.

Também ficou combinado que, se Maurício se retratar pela fala homofóbica, ele poderá ser reintegrado ao elenco. No clube, acreditava-se que isso iria acontecer. Há quem entenda que o central, árduo defensor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), já está em campanha para ser candidato nas eleições do ano que vem.