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Olhar Olímpico

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Atletas pedem que COB vá à corte suíça por vaga olímpica tirada na canetada

19/06/2021 04h00

A Comissão de Atletas do Comitê Olímpico do Brasil (COB) encaminhou à área jurídica da entidade um pedido para que o COB entre na Corte Arbitral do Esporte (CAS) cobrando o direito de dois atletas dos saltos ornamentais participarem da Olimpíada de Tóquio. Eles chegaram a ser "confirmados" nos Jogos pelo COB, porque alcançaram os resultados exigidos pela Federação Internacional de Natação (Fina), mas só depois ficaram sabendo que as regras haviam sido alteradas.

Isaac Souza, na plataforma de 10m, e Luana Lira, no trampolim de 3m, alcançaram a semifinal da Copa do Mundo realizada em Tóquio no mês de maio, último evento classificatório. Até aquele momento, o critério de obtenção de vagas para a Olimpíada era exatamente esse: se classificar à semifinal.

Mas, a um dia do fim do Pré-Olímpico, a Fina produziu um documento alterando os critérios de classificação. A Federação Internacional fez as contas e descobriu que, pelos critérios criados em 2018, se classificariam para Tóquio mais atletas do que as 136 vagas reservadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) aos saltos ornamentais. E, sem avisar ninguém, decidiu que só os finalistas teriam vaga assegurada na Olimpíada.

A alteração, porém, só foi informada às federações sete dias após a mudança nas regras, e já com o Pré-Olímpico encerrado. Ou seja: as entidades só souberam dos critérios que estavam valendo para a Copa depois que a competição acabou. Isaac Souza e Luana Lira perderam a vaga na Olimpíada.

Um mês depois de o caso vir à tona, a situação ainda não foi solucionada. Liderados pelo ex-atleta olímpico Hugo Parisi, representante dos saltos na comissão de atletas da CBDA, eles enviaram um pedido ao COB, via CACOB, solicitando que o comitê brigue por eles na instância indicada para casos desse tipo, a Corte Arbitral do Esporte, que fica na Suíça. Um processo nessa corte custa pelo menos R$ 100 mil e os atletas não têm como pagar sozinhos.

"É triste ver que uma instituição internacional não está cumprindo as regras e está todo mundo deixando passar", diz Hugo Parisi, reclamando também da falta de ação dos dirigentes brasileiros. "É duro esse golpe, é difícil de aceitar. Até a Comissão Nacional de Atletas (CNA) se manifestou, mas nada aconteceu. A gente percebe que é algo muito político. Nada aconteceu".

No começo do mês, a Fina elegeu Husain Al-Musallam como presidente e a sensação dos atletas é que a CBDA optou por não peitar o novo dirigente máximo dos esportes aquáticos. Por isso, eles foram direto ao COB. A confederação disse, em nota, que "está trabalhando para que essa opção [ir à CAS] não seja nem estudada". "Por enquanto, estamos, em conjunto com outros países, recorrendo aos meios administrativos e tratativas com a Fina para que o caso seja solucionado o mais brevemente possível", afirma a confederação.