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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Handebol nunca nem discutiu punir presidente acusado de assédio sexual

Ricardo Souza, o Ricardinho, ex-presidente da Confederação Brasileira de Handebol - Agência Câmara
Ricardo Souza, o Ricardinho, ex-presidente da Confederação Brasileira de Handebol Imagem: Agência Câmara

16/06/2021 04h00

Enquanto no futebol Rogério Caboclo foi rapidamente afastado da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) depois da formalização de uma denúncia de assédio sexual, a Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) nunca sequer abriu procedimento interno para investigar acusações semelhantes feitas contra o seu agora ex-presidente Ricardo Souza. E nem pretende abrir, de acordo com a nova diretoria.

Ricardinho, como é conhecido no meio, foi acusado de assédio sexual por uma funcionária da confederação, que ele listou perante o Comitê Olímpico do Brasil (COB) como sua "acompanhante" nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019. Inicialmente, ela foi informada que trabalharia na competição, tanto que fez um pedido de credencial. Chegando ao Peru, não havia hotel reservado para ela pela confederação. Ela teria que dormir com Ricardinho, o que ela se recusou a fazer.

A situação foi solucionada pelo COB, que arranjou outro hotel para a funcionária, que relatou, depois disso, diversos episódios em que foi assediada pelo presidente, inclusive em Lima, onde gravou uma conversa em tom de ameaça dentro de uma van alugada pelo COB. Apesar de o assédio ter sido presenciado por diversas pessoas da missão brasileira em Lima, o caso só chegou ao Conselho de Ética do COB por uma denúncia anônima. O julgamento aconteceu em agosto, quando o órgão suspendeu Ricardinho do movimento olímpico por dois anos.

O dirigente alegou que a punição do COB não se aplicava ao seu cargo na Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), uma entidade autônoma. Com essa tese, ele permaneceu no cargo graças a uma liminar expedida pelo desembargador André Ribeiro Von Melentovytch, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ). No entender da Justiça, caberia aos órgãos da CBHb afastar seu presidente, o que nunca ocorreu.

Ricardinho só deixou o cargo em dezembro, depois de a confederação ser estrangulada financeiramente pelo COB, que alegou que, como o presidente estava suspenso, os documentos assinados por ele não eram válidos para pedidos de verbas. Sem dinheiro, o handebol não conseguiria mandar um time para jogar o Mundial Masculino, em janeiro.

Pouco mais de um mês depois, o handebol elegeu novo presidente, o advogado Felipe Rego Barros, aliado político de Ricardinho, que optou por não abrir um procedimento para investigar as acusações contra o ex-presidente. A funcionária assediada continua afastada.

Procurada, a confederação disse que "a atual diretoria não se encontrava à frente da CBHb", mas que Ricardinho foi julgado e condenado pelo COB, ainda que a pena nunca tenha sido aplicada pela confederação. "Em relação às informações sobre a nossa colaboradora, informamos que ela entrou com uma demanda judicial contra a CBHb e, em razão do segredo de justiça estabelecido, a CBHb não pode se pronunciar sobre o fato, se manifestando apenas nos autos processuais", comentou.

Ricardinho, como vem fazendo desde o início do caso, não respondeu às mensagens enviadas pela reportagem. A funcionária que o acusa de assédio não quis conceder entrevista.