Chapa para presidente do judô plagia propostas de candidato do vôlei

A chapa de oposição da eleição da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) apresentou como propostas para o caso de ser eleita uma cópia praticamente integral das propostas feitas pela chapa que venceu a eleição da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). A votação acontece no próximo dia 6 de março.

O "Plano de Gestão da chapa Resgate da União do Judô", encabeçada pelo paulista Chico do Judô, é uma cópia do "plano de gestão" da chapa Tradição, Ética e Inovação, de Walter Pitombo Laranjeiras, o Toroca, que em janeiro venceu a eleição do vôlei. Ao apresentar suas propostas, porém, o grupo de Chico tomou o cuidado de trocar a palavra "voleibol" pela palavra judô.

Por exemplo, uma das propostas de Toroca para o vôlei era: "Criar o Congresso Brasileiro de Voleibol com objetivo de debater a modalidade com a participação de todos os stakeholders". Chico se compromete a "Criar o Congresso Brasileiro de Judô com objetivo de debater a modalidade com a participação de todos os stakeholders".

No total, são sete páginas de propostas plagiadas, desde ideias vagas como "fortalecer e agregar valor à entidade garantindo a conformidade e a transparência através da aplicação de normas, diretrizes e procedimentos" até outras bem mais específicas, como a criação de sites paras as federações estaduais. Mesmo propostas que não fazem sentido para o judô como "ampliar as transmissões em pay per view" foram copiadas — o judô não tem transmissões neste formado.

Francisco de Carvalho Filho, conhecido como Chico do Judô, tem 70 anos e é, há muitos anos, presidente da Federação Paulista. Por mais de três décadas, foi vereador na cidade de Mauá, na Grande São Paulo, mas não conseguiu se reeleger no ano passado. De acordo com pessoas próximas, ele está internado como Covid-19 e, até ontem, estava entubado.

Ao Olhar Olímpico, seus aliados confirmaram que se inspiraram na proposta do vôlei, alegando que esta "atende plenamente o que pensamos para nossa modalidade", mas que "lamentavelmente houve "erro de digitação" no caso do plágio, um "erro material simples de digitação". A nota é assinada pelo próprio Chico que ainda alega que sua internação dificultou a entrega do documento. A chapa do vôlei que teve os textos plagiados lamentou a cópia, mas disse que o fato confirma que as propostas deles para o esporte são inspiradoras.

Chico concorre contra o atual presidente, o catarinense Silvio Acácio Borges, que é apoiado pelo antecessor Paulo Wanderley Teixeira, hoje presidente do COB. Em busca da reeleição, Sílvio está sendo acusado de usar o cargo na campanha. "O candidato da situação utiliza indiscriminadamente recursos da CBJ e ainda conta com o apoio escancarado do Comitê Olímpico do Brasil (COB)", diz ele na nota.

Denúncia apresentada pela federação de Tocantins mostra, em conversa de grupo de Whatsapp dos presidentes de federação, o uso da conta da CBJ na plataforma Zoom para uma reunião política. Além disso, a oposição questiona que Silvio Acácio apresentou o registro de sua chapa em papel timbrado da confederação, usando inclusive as marcas de patrocinadores e apoiadores da CBJ, como Bradesco, Mizuno e Globo.

Procurada, a CBJ disse que confirmou ter recebido a denúncia e disse que conduzirá os próximos passos do processo. "Portanto, cabe à CBJ aguardar a tramitação e julgamento da referida impugnação e, por fim, os resultados homologados das eleições (Presidência, Membros Independentes do Conselho de Administração e Conselho de Ética)."

Paulo Wanderley nega "veementemente" que esteja apoiando qualquer candidato à próxima eleição da CBJ. "Como é praxe nesta gestão, a entidade e seu dirigente máximo respeitam integralmente a autonomia política de seus filiados, não tendo preferência por nenhuma candidatura específica. O COB mais uma vez registra que não faria em disputas alheias exatamente o que condenou em sua eleição, a tentativa de chegar ao poder por interferências externas. Portanto, é falsa a informação publicada pelo blog Olhar Olímpico, veiculada mais uma vez sem que a entidade fosse procurada para se pronunciar."