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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Operação da polícia mira ONG de Leila do Vôlei e de ex-jogadora da seleção

Jogadora de vôlei por mais de 20 anos, a senadora Leila Barros foi relatora do projeto da senadora Rose de Freitas e testemunhou como patrocinadores e emissoras de TV preferem e competições masculinas - Jane de Araújo/Agência Senado
Jogadora de vôlei por mais de 20 anos, a senadora Leila Barros foi relatora do projeto da senadora Rose de Freitas e testemunhou como patrocinadores e emissoras de TV preferem e competições masculinas Imagem: Jane de Araújo/Agência Senado

03/02/2021 13h17

A Polícia Civil do Distrito Federal deflagrou ontem (2) a Operação Tie-break, que apura indícios de crimes contra a administração pública por parte dos antigos gestores da ONG Instituto Amigos do Vôlei, idealizada pela senadora Leila do Vôlei (PSB-DF). Um dos alvos da operação, que teve três mandados de busca e apreensão, é a também ex-jogadora da seleção brasileira Ricarda Lima, medalhista de bronze em Sydney-2000, que hoje trabalha como sua chefe de gabinete no Senado. Na época dos fatos, ela era a presidente do instituto.

De acordo com a PCDF, a investigação apura irregularidades na contratação da ONG, em 2011, para prestação de serviços no Centro Olímpico de Santa Maria por meio de uma licitação vinculada à Secretaria de Esportes do DF. Na época, Ricarda e Leila eram apresentadas como as líderes da ONG em matéria publicada no site do Ministério do Esporte. Hoje Ricarda representa o Conselho Nacional do Esporte na Comissão Técnica da Lei de Incentivo ao Esporte, que aprova ou rejeita projetos da LIE.

Segundo a polícia, ao longo da investigação foram identificados "diversos indícios que demonstraram o direcionamento da contratação do IAV". Além disso, parte significativa do montante do contrato (cerca de R$ 3 milhões de um total de quase R$ 10 milhões) não teve comprovação de gasto.

"Apurou-se, ainda, a presença de indícios de superfaturamento", disse a polícia. "Cita-se como exemplo de irregularidades apontadas no relatório de auditoria da corte de contas: contratação a maior de 79% em relação aos cursos de informática e inglês; superfaturamento de 118% na aquisição de bolas de basquetebol, 400% na aquisição de bolas de tênis, 2.595% na aquisição de plataforma de piscina; superfaturamento de 411,70% no valor da contratação do serviço de pesquisa de satisfação."

O caso já foi avaliado pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal, que em novembro do ano passado condenou três gestores da ONG a pagarem um total de R$ 21 mil em multas. De acordo com o site Metrópoles, Ricarda, que era presidente da ONG, recebeu multa de R$ 7 mil, mesmo valor cobrado dos diretores financeiros André Luis Pedrosa e Francisco Barbosa Pedrosa.

Um levantamento do Jornal de Brasília, em 2015, mostrou que, desde 2009 e até então, a ONG já havia recebido mais de R$ 20 milhões do governo do Distrito Federal. Naquele ano, 2015, Leila assumiu a Secretaria de Esporte em Brasília, tendo Ricarda como seu braço direito e, depois, sua substituta quando ela se afastou para concorrer a uma cadeira no Senado, em 2018. Seu marido, Emanuel Rego, chegou a atuar como secretário nacional de esporte de alto rendimento no governo Jair Bolsonaro (sem partido).

A assessoria de imprensa de Leila soltou a seguinte nota sobre o caso: "A Senadora Leila Barros acompanha com atenção os desdobramentos da Operação Tie-break e defende que os fatos sejam esclarecidos o mais rapidamente possível. Sua atuação - tanto na vida pública, quanto na vida pessoal ou nos anos que se dedicou ao esporte - sempre foi pautada nos princípios da legalidade, moralidade e da ética."

O advogado que representa Ricarda, Fábio Paganela, disse que a ex-jogadora "sempre adotou uma conduta ética, uma conduta ilibada, dentro da legalidade" e que ainda não teve acesso aos autos. "É estranho a busca e apreensão ocorrer em 2021 depois de passados vários anos dos fatos narrados pela imprensa. Ela nunca foi chamada para prestar esclarecimento nenhum", destacou.