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Olhar Olímpico

Eleição do surfe vai parar na polícia com acusação de sede falsa

05/12/2020 12h00

O edital de convocação de eleição da Confederação Brasileira de Surfe (CBSurfe) exige que as chapas entregassem suas documentações na sede da entidade, na "Rua Soldado Luiz Gonzaga das Virgens, nº 93", em Salvador (Bahia), até anteontem (3). Acontece que esse endereço não existe. A confederação até ficava no Edifício São Conrado, no número 138 da mesma rua, mas a sala que ela ocupava, que pertence ao próprio presidente Adalvo Argolo, hoje tem o escritório de uma empresa.

Essas informações constam em uma certidão de ocorrência registrado anteontem (3) na Polícia Federal em Salvador. Consta nessa certidão que duas pessoas, o produtor de conteúdo Marcos Aurélio Chagas o advogado Antonio Medeiros foram até o endereço para entregar a documentação da chapa de oposição "Nação Surfe Brasil" e lá foram informados que a confederação "não funciona neste local há muito tempo".

A cena foi gravada em vídeo. Os dois abrem a porta do escritório e perguntam: "A Confederação Brasileira de Surfe funciona aqui?". Há uma mesa de reunião cheia de pessoas, que dizem que não. "Funcionou há muito tempo atrás", diz uma delas. O advogado fala que era o dia final do registro da chapa e que a sala era o local indicado para a entrega de documentos. "A gente já está aqui há um ano e meio", informa um dos funcionários, explicando tratar-se da empresa CNK Consultoria. "Vocês não estão recebendo nenhum protocolo aqui em nome da CBSurfe?", pergunta o advogado. A resposta é não.

O advogado da CBSurfe e membro da comissão eleitoral Marcelo Franklin diz que não haveria problema se os documentos tivessem sido enviados pelos Correios e que "a sede da entidade continua no mesmo endereço de antes, uma sala de propriedade de Adalvo Argolo, cujo espaço é compartilhado provisoriamente sem custo para a CBSurf".

Ainda segundo ele, "todas as correspondências enviadas para o endereço 'Rua Soldado Luís Gonzaga das Virgens - Edifício São Conrado AN 93- Térreo Sala 108' são regularmente entregues na CBSurf". É esse o endereço disponível no site da confederação, ainda que não exista um prédio de número 93 nessa rua. O edifício São Conrado está no número 138.

Em março, Chagas chegou a gravar um vídeo, que repercutiu entre os surfistas, mostrando que a entidade não funcionava nessa sede, nem em outra, na avenida Santa Luzia, que é o que aparece no site do COB. Mas esperava que, ao menos para a eleição, a confederação fosse deixar um funcionário no endereço.

O Olhar Olímpico tentou contato com a confederação, mas não conseguiu. Depois da história repercutir, Argolo enviou mensagem de áudio aos presidentes de federação e disse que a oposição estava "plantando mentiras". A confederação continua funcionando na mesma sala, que é de propriedade nossa, e é cedida para a confederação funcionar em parceria com outro amigo. As pessoas não e estavam lá, nossos parceiros, e sim funcionários deles. Todos os outros documentos estão sendo entregues lá", diz ele. Franklin, advogado da confederação, não soube responder por que quem estava na sala negou que ali se recebessem documentos da confederação.

Adalvo Argolo é presidente da CBSurfe desde 2010 se mantém no poder com o apoio de entidades do Nordeste, que são em maior número que as do Sul e do Sudeste somadas. Mas ele perdeu o apoio que tinha depois que a confederação passou a receber recursos da Lei Agnelo/Piva e teve suas contas contestadas até por antigos aliados. A Justiça chegou a determinar o afastamento de Argolo do cargo, mas na prática ele nunca deixou a confederação.

Há um imbróglio gigantesco e complexo que contesta contadas, estatutos e até atas eleitorais. Em março, Argolo diz ter realizado uma assembleia extraordinária alterando o endereço da confederação para uma sala comercial em São Paulo. Mas essa ata nunca foi registrada em cartório e não é reconhecida pela ampla maioria dos surfistas e das federações. Franklin diz que o endereço da sede está "em processo de transição"

A eleição vai acontecer em 18 de dezembro e Adalvo só tem, até onde se sabe, o apoio da federação da Bahia. Duas chapas encabeçadas por ex-surfistas prometem dividir as atenções. A de Ricardo Bocão, com Paulo Moura Vice, e a de Jojó de Olivença, com Brigitte Mayer vice.