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Westrupp chega à eleição do COB como candidato do establishment político

Leandro Cruz e Rafael Westrupp, em foto de 2018 - Reprodução/Instagram
Leandro Cruz e Rafael Westrupp, em foto de 2018 Imagem: Reprodução/Instagram

06/10/2020 12h00

Às 9h da manhã do dia 4 de agosto, as federações estaduais de tênis e os membros da comissão de atletas entraram em uma reunião por vídeo-chamada para discutirem a possibilidade de alterar o estatuto da Confederação Brasileira de Tênis (CBT). Na noite do mesmo dia, na gráfica da Folha de São Paulo, o jornal do dia seguinte rodava com um anúncio da CBT convocando eleição, já com base no estatuto discutido pela manhã. O edital saiu antes mesmo de o 1º Cartório de Registro Civil de Florianópolis validar o novo estatuto, o que só ocorreria dois dias depois.

Por que Rafael Westrupp, que tem mandato na CBT até o final de março de 2021, correu contra o tempo para assegurar sua reeleição já em agosto do ano anterior? Essa é uma das perguntas que o candidato a presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) não respondeu ao rejeitar pedido de entrevista feito diversas vezes pelo Olhar Olímpico. Seus interlocutores informaram que ele não teria tempo para conversas por telefone ou vídeo-chamada, como fizeram seus adversários. Leia aqui a entrevista com Paulo Wanderley e aqui a com Hélio Meirelles.

Amigo próximo de Rafael Kuerten, empresário e irmão de Guga Kuerten, Westrupp chegou à presidente da Federação Catarinense de Tênis respaldado pelo cidadão mais famoso de Santa Catarina. Em 2016, foi eleito, com a chancela de Jorge Lacerda, para comandar a CBT. Seu padrinho, depois, seria condenado à prisão por fraudes. Westrupp não explicou, até agora, por que, como presidente da CBT, não fez uma devassa nas contas do seu antecessor.

Mais jovem dos presidentes das confederações, foi convidado por Paulo Wanderley a ter um assento no Conselho de Administração. Aceitou e foi aclamado para a vaga. Em março, renunciou dentro do prazo para poder concorrer a esta eleição do COB. Na época, dizia a quem o perguntava que pretendia ter carreira na política internacional do tênis. Paulo Wanderley conta que, certo dia, ligou para o aliado e perguntou se ele seria seu adversário. Ouviu que não. Westrupp estava em campanha, em Recife, e os dois se encontraram coincidentemente no aeroporto.

Para justificar a antecipação da eleição na CBT, Westrupp alegou, a presidentes de federação, que esse era um pedido do patrocinador máster da confederação, o Banco de Brasília. O acordo foi intermediado pelo ex-ministro do Esporte Leandro Cruz, que chegou ao cargo após trabalhar por anos para o clã político dos Picciani, do Rio, e hoje é figura política proeminente no governo do Distrito Federal. Cruz também estava em Recife e os dois pediam o voto do presidente da Confederação Brasileira de Basquete (CBB), Guy Peixoto. O BRB chegou a anunciar patrocínio à CBB, que só não vingou por falta de documentação por parte da entidade.

Se Paulo Wanderley é o candidato da maioria das confederações — ele diz ter o apoio de 22 das 35 —, Westrupp é o nome do anti-establichment do movimento olímpico e, ao mesmo tempo, do establishment político. Uma de suas promessas é assumir o Parque Olímpico da Barra em "parceria" com o governo federal, o que soa inviável pelos custos envolvidos na manutenção do espaço, pelo caos burocrático e pelos muitos problemas estruturais.

"A dupla (Rafael e Emanuel) irá utilizar de recursos existentes na Secretaria Especial do Esporte e oferecerá a custo zero uma estrutura física a todas as confederações que tiverem interesse", prometeu a chapa, no Twitter. Na verdade, os recursos da secretaria são do Escritório de Legado Olímpico (EGLO). Publicamente, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) sempre disse que o plano era privatizar o parque, zerando os custos para os cofres públicos. Como o COB pagaria essa conta? A pergunta também está sem resposta.

Até aqui, ao menos oficialmente, Westrupp tem recebido apoio dos dirigentes que se sentem peixe fora d'água no COB: Guy Peixoto (empresário que é presidente e mecenas do basquete), Andrew Parsons (membro do COI, presidente do Comitê Paraolímpico Internacional), Rogério Caboclo (presidente da sempre distante do movimento olímpico CBF), Anders Pettersson (sueco que comanda a confederação de neve) e Duda Musa (ex-agente de Neymar que assumiu a confederação de skate após a renúncia de Bob Burnquist). Além deles, apoiam Westrupp as confederações de vôlei (pela presença de Emanuel Rego na chapa) e de desportos no gelo.

Emanuel, aliás, chegou à chapa como solução e virou problema. Também ligado ao establishment de Brasília — é marido da senadora Leila Barros e ex-secretário de esporte de alto rendimento —, poderia atrair o voto dos atletas. Mas afastou vários deles ao, como presidente da Comissão Nacional de Atletas de Vôlei de Praia, criticar a fala política de Carol Solberg, prometendo "lutar" para que os atletas fossem proibidos de se posicionar em competições. Ele tentou consertar, inclusive conversando diretamente com Carol, mas deixou incômodos.

Se eleito, Westrupp já deixou claro que Emanuel vai cuidar da área esportiva, mesmo faltando poucos meses para os Jogos Olímpicos de Tóquio — o atual mandato acaba até 15 de janeiro, mas, se derrotado, Paulo Wanderley pode optar por sair antes. Marco La Porta, atual vice, seria mantido como chefe de missão, se assim desejar.

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