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Olhar Olímpico

Clubes reabrem para associados, mas vetam atletas olímpicos em São Paulo

Piscina olímpica do Esporte Clube Pinheiros - Divulgação
Piscina olímpica do Esporte Clube Pinheiros Imagem: Divulgação

23/07/2020 04h00

Os presidentes dos maiores clubes sociais de São Paulo fecharam um acordo informal para que apenas associados sejam beneficiados com a reabertura de piscinas, academias e pistas de atletismo, já autorizada pela prefeitura de São Paulo. Os atletas de rendimento que se preparam para os Jogos Olímpicos de Tóquio só poderão voltar a treinar em seus clubes "em um segundo momento", quando não houver restrições de horários.

O Sindiclubes, sindicato patronal paulista, convenceu o governo estadual a permitir que os clubes sociais reabrissem à medida que outros setores fossem sendo autorizados. Assim, as lojas internas dos clubes reabriram junto com as lojas de rua e de shopping, os bares também e, mais recentemente, essa autorização chegou às academias de musculação e de ginástica na cidade de São Paulo.

Há três semanas, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), assinou protocolo autorizando que academias e piscinas reabrissem, dentro de uma série de regras, como o limite de 6 horas contínuas por dia e 30% da capacidade. Nas piscinas, só uma pessoa por vez na raia, e por uma hora, no máximo.

Seria o suficiente para atletas que estão trancafiados em casa há quatro meses pudessem voltar a treinar, mas não é isso que está acontecendo. De acordo com Paulo Movizzo, presidente do Sindiclubes e do Paulistano, os presidentes dos grandes clubes de São Paulo combinaram de forma informal que só reabririam suas estruturas para associados.

"Com esse horário rígido vai se privilegiar o associado. Mas isso não partiu do Sindiclube, e sim do grupo com os presidentes dos grandes clubes. Num primeiro momento, vamos abrir só para os associados", explicou ele. No caso do Paulistano, a academia reabre na próxima segunda-feira, a piscina principal está em reforma e a piscina coberta está restrita a associados.

Isso gera uma situação curiosa e desconfortável. Um nadador que busca índice para os Jogos Olímpicos de Tóquio pode fazer sua preparação física em uma academia de rua ou de shopping, onde também pode cair na água e fazer treinos específicos de natação. Mas ele não pode fazer isso no seu próprio clube.

No Pinheiros, principal clube da natação brasileira, duas piscinas olímpicas estão abertas, uma das 10h às 16h e outra das 13h30 às 19h30, mas os atletas seguem vetados. De acordo com o clube, o uso das piscinas é "apenas para lazer" e "não há previsão para treino de atletas de alto rendimento". Só de 2008 a 2019, o Pinheiros recebeu R$ 114 milhões em recursos públicos para formar atletas e reformar as estruturas agora disponíveis apenas para os sócios.

Líder do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), que financia os clubes sociais com recursos das loterias para que eles formem atletas, mostra apoio à decisão não autorizar o uso dos clubes pelos atletas. "Não tem alternativa. Os clubes estão com alta inadimplência. Qual a maneira de diminuir a inadimplência? Trazer ele para o clube. É para manter a instituição funcionando", diz Arialdo Boscolo.

A postura dos clubes paulistanos contrasta com a de outros clubes olímpicos de peso no Brasil. O Flamengo, por exemplo, reabriu na semana passada ao mesmo tempo para associados e para atletas de rendimento, que foram todos testados para Covid antes de voltarem a treinar. Em Porto Alegre, Sogipa e Grêmio Náutico União (GNU) reabriram primeiro para atletas de rendimento — decreto da prefeitura local delimita abrangência da medida aos atletas sob contrato com os clubes.

Por isso, atletas de São Paulo têm encontrado mais dificuldade em treinar. Na natação, parte da equipe do Pinheiros foi levada à Europa pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), mas o time feminino segue sem contato com a água. No atletismo, alguns atletas treinaram por duas semanas em Bragança Paulista, até a Justiça determinar que o CT da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) não poderia ficar aberto em plena fase vermelha. Na falta de opção, velocistas têm treinado no gramado em frente ao Parque do Ibirapuera.

Todos os grandes clubes "olímpicos" do país são financiados, em algum nível, por recursos públicos. Recentemente, o Pinheiros foi beneficiado por R$ 9,2 milhões em edital do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) para formação de atletas. O Paulistano levou R$ 5,8 milhões,