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Crivella entrega Legado Olímpico a bolsonarista e acena com privatização

Arena Carioca 3 em sua reabertura no modo legado -  Ricardo Cassiano/Prefeitura do Rio
Arena Carioca 3 em sua reabertura no modo legado Imagem: Ricardo Cassiano/Prefeitura do Rio

03/06/2020 04h00

O prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) entregou o comando do legado olímpico à deputada estadual Allana Passos (PSL), que se define como no Twitter como "mãe, casada, cristã, conservadora e de direita" e mantém ali, em destaque, uma montagem com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Por indicação de Passos, Camila Vieira de Sousa foi nomeada secretária da recém-criada Secretaria Especial de Turismo e Legado Olímpico.

A movimentação pegou de surpresa a ex-presidente do Flamengo Patrícia Amorim, que desde o começo do governo Crivella é quem administra o legado olímpico. Patrícia continua nomeada como subsecretária, mas em tese perdeu poder, ganhando uma chefe hierárquica. Na sexta (29), a deputada estadual e a nova secretária visitaram as instalações, mas sequer passaram cumprimentar Patrícia ou os funcionários que cuidam do legado pela parte do município. A ex-nadadora queixou-se do tratamento com interlocutores.

As estruturas do Parque Olímpico da Barra e o Parque Radical, em Deodoro, pertencem à prefeitura do Rio, que falhou em concedê-los à iniciativa privada no final de 2016. A solução encontrada então foi ceder quatro equipamentos (Arenas Cariocas 1 e 2, Velódromo e Centro de Tênis) para o governo federal, ficando com a Arena 3 e o Parque Radical.

Quando Crivella assumiu, nomeou Patrícia, ex-vereadora e hoje filiada ao partido dele, como Secretária de Esporte e Lazer. Em outubro daquele ano de 2017, criou para ela a Subsecretria de Legado Olímpico, debaixo do guarda-chuva da Casa Civil, mas dando a ela liberdade para cuidar do legado. Unidades do Sesc foram montadas e desmontadas na Arena 3 e no Parque Radical, depois que a entidade se incomodou pelo longo período de inatividade durante o Rock In Rio, e diversas federações montaram estruturas de treinamento na Arena Carioca 3. Essas federações temem serem agora desalojadas.

O Olhar Olímpico questionou Camila Vieira de Sousa sobre o que muda agora que é a responsabilidade sob o legado é dela, mas, via assessoria de imprensa, a nova secretária disse ontem (2) que só estava há um dia no cargo e que "precisa tomar conhecimento da pasta" antes de tomar decisões. No mesmo dia, exonerou o assessor de imprensa, decisão que saiu hoje (3) no Diário Oficial. Procurada, Patrícia não quis comentar, mas confirmou que não teve contato com a nova chefe.

Até ser nomeada secretária, Camila era gerente de operações da GL Events, empresa que administra o Riocentro e a Arena da Barra, ginásio construído para o Pan de 2007 e também utilizado na Olimpíada do Rio. De acordo com o perfil dela no Linkedin, Camila estava na GL há 14 anos.

O futuro do legado olímpico é incerto. Da parte do governo federal, a antiga autarquia que administrava o espaço venceu em meados do ano passado e não foi renovada. Um "escritório" foi criado no fim do ano, com data de validade até 30 de junho, para administrar as arenas e tratar da privatização, mas até agora somente cinco pessoas foram nomeadas. O governo federal não esconde que pretende conceder o equipamento à iniciativa privada, e a GL Events seria uma das interessadas.