Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Postura de Bap agrava a sensação de isolamento do Flamengo

Em entrevista ao UOL, o presidente do Flamengo deixa evidente que acredita que o tamanho do Flamengo justifica a mão pesada e a postura separatista adotada em negociações e embates recentes. O Flamengo é o maior do Brasil. O Flamengo tem 25% da torcida do Brasil (os números, sempre difíceis de serem cravados, indicam 20%). O Flamengo se basta com a FlamengoTV. O Flamengo negociou mal com a Libra e não honrou o seu tamanho. Eu teria negociado melhor para o Flamengo e para os demais clubes da Libra.

Tudo isso o presidente do Flamengo disse ou sugeriu na entrevista da dada a Rodrigo Mattos. Problemas de auto-estima Bap não tem. É uma postura separatista e não há muito espaço para que interpretemos de outros modos. Bap parece acreditar que ele e o Flamengo são melhores e maiores do que os demais. Ele fala sem nenhuma noção de grupo, de solidariedade, de coletivo. É o Flamengo contra a rapa.

Durante a entrevista ele infantilizou e ridicularizou Leila Pereira. "Quem é que discutiu que quer estar separado?", perguntou retoricamente depois de passar meia hora separando o Flamengo dos demais. Em seguida falou que o Flamengo foi muito gentil com os demais, mas não disse exatamente como. Depois tentou colocar o deboche de Leila, que disse "O Flamengo devia jogar sozinho" dentro do campo da lógica: "como o Flamengo vai jogar sozinho?", quis saber. Era precisamente essa a ironia feita por Leila. Como, meu caro? Bap tentou dar uma volta no tema e derrubar a oponente e acabou se ferindo bobamente com o sarcasmo jogado pela rival.

Bap defende os interesses do seu clube, evidentemente. O que me chamou a atenção na entrevista de mais de uma hora é a postura intransigente e separatista. A impressão é a de que o Flamengo realmente acredita que pode existir sozinho e que o mínimo que faz em nome do grupo deve ser considerado muita coisa porque o Flamengo é - na visão de Bap - o dono na bola. Agradeçam ainda estarmos nesse grupo.

Bap indica que está do lado certo, moralmente falando. E que Leila estaria do lado errado. Fala em conflitos de interesses entre Crefisa e Vasco e se perde quando deixa no ar a suspeita de que o Vasco teria entregado um jogo para o Palmeiras.

Eu realmente tenho problemas com essas divisões morais. Há pouco tempo o diretor da base do Flamengo fez um comentário eugenista durante uma entrevista. Disse que se quisermos força física, devemos olhar para a África e, se quisermos intelectualidade, devemos olhar para a Europa. Não me lembro da revolta de Bap em relação a essa colocação abjeta e acredito que fica complicado fazer divisões morais a partir desse tipo de silêncio.

Leila e Bap talvez cheguem a um acordo. Faria bem ao futebol. Mas, a julgar pela postura do presidente do Flamengo, essa história tem tudo para piorar antes de começar a melhorar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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