Milly Lacombe

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Entre erros e acertos, Leila Pereira segue aprendendo com o feminismo

Leila Pereira deu uma coletiva para repórteres brasileiros e brasileiras hoje nos Estados Unidos. Falou do torneio, do que esperar do Palmeiras, da parceria com Abel e das contas em dia. Em tom ameno e sorrindo. Mas seus olhos brilharam mesmo quando, perguntada por uma jornalista, elaborou a respeito do que espera que aconteça com mulheres no futebol.

Não tenho nenhuma dúvida de que Leila está se apaixonando pela causa feminista, ainda que talvez nem ela mesma diga isso para si. Feminismo é uma palavra imensa e pesada. Mas a própria Leila reconheceu que fica muito feliz quando é abordada por torcedoras de outros times que enxergam nela uma grande inspiração. Vencer é bom, ela disse, mas esse reconhecimento é especial. Explicou outra vez que é ruim para o futebol que ela seja a única mulher presidente de um time presente na Copa do Mundo. Quer mudar esse cenário. Leila fala com paixão e sinceridade. E nós agradecemos. O que ela faz, os assuntos que ela pauta e os exemplos que ela dá são inéditos, tardios e urgentes.

Mas aí ela inevitavelmente derrapa: "Se a Leila consegue, todas podem conseguir".

Não, não é verdade. Esse é o discurso meritocrático que desconsidera estruturas de poder que agem sobre silenciamentos e apagamentos.

O desejo não basta para mulheres negras e mulheres periféricas por exemplo. Para cada uma que consegue, milhares são deixadas para trás. Mulheres que são consideradas desviantes da norma também têm a vida dificultada nesse jogo liberal-patriarcal. Nem toda mulher pode se impor, falar mais alto, dizer "aqui quem manda sou eu e vai ser do meu jeito". Muitas são obrigadas a calar em nome do salário que não raramente é a diferença entre viver e morrer. Muitas são obrigadas a permanecer em casamentos abusivos porque não tem para onde correr e se ousarem denunciar sabem que nem a polícia, nem o judiciário, nem a família, nem os amigos ficarão do lado dela.

Não basta querer. Não basta lutar.

É preciso nivelar o tabuleiro. Acabar com essa mentira de meritocracia. Criar ambientes para que todas possam sonhar e tentar em igualdade de condições e sem ter que submeter a abusos, assédios. Justamente por isso Leila Pereira é aliada fundamental. Ela pode. Ela tem a caneta. Ela tem o poder. O feminismo é um aprendizado. Não acontece da noite para o dia. Leila está seguindo. Minha torcida é para que escute mais as vozes femininas dissonantes, cerque-se de conselheiras com algum letramento. Para que use sua absurda capacidade cognitiva a fim de se aprofundar na teoria e na prática. Despacito. Vem, Leila. Estamos te esperando.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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