Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Um espetáculo de viralatice e cafonice inaugura a era Ancelotti

Falamos português? Não necessariamente. Podemos falar italiano ou espanhol. Benvenutto, Carlo! O vídeo que recebeu o italiano estava cheio de declarações na língua dele e não na nossa língua. Mas o problema mesmo é a falta de patriotismo dos que cogitaram uma camisa vermelha. Não são patriotas! Fora daqui. Usaremos a amarela e falaremos italiano.

Aberta a coletiva imaginamos que as perguntas seriam feitas em português já que havia tradução simultânea. Mas não, claro que não. Dane-se a galera em casa vendo a apresentação. Vamos mostrar per tutti que sabemos uma outra língua. Muitos dos que fizeram as perguntas optaram por esse constrangimento.

A estética das coletivas da CBF é sempre a estética estado totalitário. O que, convenhamos, não é incoerente já que eleições não há. Mas talvez essa estética convide ao tédio. Todos parecem mais entediados quando chegam por lá. Ancelotti estava bocejante. Rodrigo Caetano no mesmo tom. O único sorridente era Samir Xaud, que nasceu e, quarenta anos depois, foi nomeado presidente da CBF pelo sagrado direito da herança paterna. Ancelotti só saiu da letargia quando foi perguntado - em português - o que sabia do nosso futebol. Aí escapou da usual elegância e aparentou falta de paciência com a pergunta - muito pertinente, aliás.

No mais, uma convocação estilo festa estranha com gente esquisita. Muito jogador de times sem expressão na Europa, Hugo do Corinthians (é bom goleiro, mas ainda não de seleção) e ausências importantes como Matheus Pereira e Kaio Jorge, ambos do Cruzeiro.

Neymar não foi convocado mas o treinador fez questão de dizer que falou com ele antes e explicou tudo. Fez isso com todos os que estavam na pré-lista? Pouco provável. Ou seja: Neymar deu ok para sua não convocação. Tem Antony, acusado de violência doméstica, e teve os mimos do amigão Falcão, acusado de importunação sexual. Dois casos arquivados porque nesse mundo a palavra de uma mulher apenas, a despeito das provas e dos indícios que ela apresente, não vale nada.

Pontapé inicial dado da era Carlo Ancelotti. Estamos falando de um homem sério, embora tenha chegado com filho e genro na sua comissão técnica, que pode sim conseguir resultados importantes. Mas isso depende de diversas variáveis.

Depende de como ele vai nos ler. Depende de como ele vai assimilar nossa cultura. Depende de como conseguirá se encaixar no modelo de trabalho da CBF. De como lidará com as críticas. De como conseguirá se motivar. De como vai querer nos conhecer. De como vai passar pelo calor.

Não basta pegar o melhor treinador do mundo e dar a ele a seleção mais vitoriosa da história e esperar sucesso como se houvesse uma fórmula mágica. Futebol é, antes de mais nada, relacionamento. Dentro de fora de campo.

Se essa apresentação cafona tiver alguma simbologia no que vem por aí, eu diria que o futuro da seleção é bastante sombrio. Aguardemos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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