Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Clubes que abraçaram Ednaldo e agora criticam a estrutura devem explicações

Lá vem Samir Xaud presidir a CBF. Chapa única e, portanto, já eleita. Contra sua candidatura alguns clubes e duas federações agora se rebelam. Dizem que querem mudanças e não continuidade. Justo, eu diria. Precisamos de mudanças, definitivamente. Mas me intriga a postura dessa turma. O que teria levado esses senhores - que agora chiam em tom elevado - a reelegerem Ednaldo sem lançar contra ele uma migalha de crítica, de reclamação, de revolta se, aparentemente, eles enxergavam que estava ruim?

São esses os clubes que nos devem explicações.

Palmeiras, Botafogo, Grêmio e Vasco estão mantendo alguma coerência apoiando Xaud sem exigir, publicamente, nada em troca. Fizeram com Ednaldo, fazem com Xaud. Eu concordo? Não. De jeito nenhum. Acho uma insanidade colocar Xaud no poder e compreendo que os mesmos interesses que mantiveram Ednaldo estão agora respaldando Xaud. Só que não me passa pela cabeça pedir explicações a esses quatro clubes dado que eles estão seguindo a mesma linha de antes.

Mas e os clubes que ontem babavam por Ednaldo e agora exigem mudanças tornando pública uma lista de tarefas que devem ser executadas pelo novo mandatário? Por que não fizeram a mesma coisa com Ednaldo? Por que o recolocaram no poder com festas e sorrisos? Dormiram sem consciência e acordaram conscientes? O que mudou da noite para o dia? Por que apoiaram Ednaldo sem lançar críticas? Se Ednaldo estivesse no poder seguiriam calados como antes? Estava tudo ótimo e de repente não está mais. O que fez esses executivos acordarem? Queremos saber.

O futebol brasileiro padece. Essa gente que está no poder, e se manterá no poder, é uma gente endinheirada, autoritária, feliz e viajante. Para eles, tudo vai bem. Fingem que veremos renovação e acham que nos enganam colocando no poder um jovem médico e executivo como quem diz: viram como mudamos? Não mudaram e não mudarão. Assim como não mudariam com Reinaldo Carneiro de Bastos, presidente da Federação Paulista, no comando. Os interesses seguem sendo os mesmos, os métodos seguem sendo idênticos.

Ouço a palavra "coronelismo" sendo usada para definir a família Xaud e me encolho. Essa palavra nunca foi usada com as famílias Covas ou Cardoso. Por que? Trata-se de uma mesma circunstância. Ancelotti trará em sua badalada comissão o filho e o genro, mas pouco importa. É italiano chique, nunca coronel. Nem mesmo Tite/Titinho, Ramon/Ramonzinho, Dorival/Dorivalzinho evocam esse coronelismo na crítica. Mas de Minas Gerais para cima tudo é coronelismo.

Xaudezão e Xaudezinho são a mais perfeita tradução de um Brasil violento, machista, patriarcal e oligárquico. E a CBF é construída a sua imagem e semelhança. Há coronéis de norte a sul; há coronelismo além-mar. Pobre futebol brasileiro, mais uma vítima fatal dessa ganância enlouquecida por poder e por dinheiro.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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