Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

É legítimo ir a um jogo usando camisa com nome de ditador?

Vimos durante a semana que um torcedor do Palmeiras foi ver seu time estampando nas costas o nome "Mussolini". Ao que consta ele não foi perturbado e não houve quem se revoltasse ao redor. Uma foto foi tirada, e por isso soubemos do episódio. O Palmeiras diz que está ciente e que estuda o caso.

Em outras ocasiões, como na do torcedor que abaixou as calças na tentativa de ofender uma torcedora rival, o clube agiu imediatamente e expulsou o machão. Então sabemos que o Palmeiras está atento e, com o reconhecimento fácil, pode resolver esse tipo de confusão.

Mas a questão nesse caso é mais complexa. A coluna apurou que o Palmeiras teria chegado à informação de que o sobrenome do alecrim seria de fato Mussolini. Nesse caso, do ponto de vista legal, ficaria difícil tomar alguma atitude.

Claro que alguém que se chame Mussolini, ou Hitler, teria todos os recursos morais, legais e éticos para mudar seu sobrenome ou escondê-lo. Nosso amigo não fez isso e, de alguma forma, parece se orgulhar de ter esse sobrenome a ponto de mandar colocar na camisa.

Houvesse educação de qualidade a respeito de quem foi Mussolini e do que é o fascismo, nem mesmo o funcionário da loja que colocou o nome na camisa seria capaz de fazer isso e diria: meu amigo, isso é proibido (não é, mas deveria ser). Ou: meu amigo, esse nome não estampo em camisa não.

Então estamos diante de um impasse. Se o nome do rapaz for Mussolini, o Palmeiras não poderia fazer muita coisa. Mas os torcedores talvez pudessem. Da próxima vez, peçam que Zé Mané Mussolini tire a camisa, peçam para que ele saia, digam que apologia a nomes como Mussolini não é aceitável.

Mas o que me martela mesmo a cabeça é que aqueles que se calaram diante de Mussolini na arena teriam agido rapidamente se por ali houvesse dois homens se beijando, ou de mãos dadas, ou trocando carícias. Ou até se uma criança que eventualmente gritasse "Vai, Corinthians" por lá. Coisas que parecem ser piores do que louvar um ditador fascista sanguinário - e que não são, obviamente.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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