Coletiva de Abel depois do Dérbi passeia entre o genial e o brutal
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Eu não perco as coletivas de Abel Ferreira. E a questão nem é o dever de ofício, que me obriga a ver de qualquer jeito. Não perco porque sempre aprendo alguma coisa. Seja porque Abel está sendo pedagógico ou grosseiro.
Vejamos o que disse ele depois do clássico que terminou empatado nesse 6 de fevereiro. Abel disse que os aplausos a Estevão, mesmo depois do pênalti perdido, foram muito importantes mas lembrou que se só fulano e beltrano são tratados com esse tipo de carinho o trabalho dele fica bastante prejudicado porque ele precisa se dedicar a elevar a moral de seu elenco.
O recado é claro e fundamental. Vaias afundam; aplausos levantam. Parece básico, eu sei. Mas a torcida do Palmeiras é conhecida pela cornetagem e, como diz um grande amigo Palmeirense, o legado de Abel não estará apenas na sala de troféus: Abel ensina o palmeirense e a palmeirense a torcer.
Abel sempre faz uma leitura tática da partida que considero perfeita. Ele vê o que vi, mas, claro, vê além. E explica. Quando de bom humor ou, melhor, quando de humor razoável.
É que o treinador deixa cristalinamente claro que detesta as coletivas, detesta as perguntas, detesta que tentem dizer a ele como treinar, jogar, trocar. Quando Abel gosta da pergunta, ele a valida verbalmente. São poucas, verdade. O que fica para mim é que Abel detesta que se metam no talento dele mas não se acanha em meter a colher no talento do repórter ou, como já vimos em momento vergonhoso para ele, da repórter. Perguntas que ele considera ruins sempre existirão. Mas a noção de que Abel está "a falar" com sua torcida e não com quem fez a pergunta seria importante.
Abel é um treinador fora de série. Raramente vi alguém capaz de fazer um time como ele. Gosto quando ele fala em formar seres humanos (ele diz "homens", mas me permito limpar a linguagem do sexismo). Abel tem direta responsabilidade na formação de Endrick, Luis Guilherme, Estevão entre tantos outros excelentes negócios feitos pelo Palmeiras. Ele matura, ele amadurece, ele oferece entendimento tático aos que fazem parte de seu elenco.
Se houvesse interessa da CBF em tornar a seleção brasileira uma seleção de ponta (não é mais, gostem ou não), ela chamaria Abel Ferreira para ser o treinador. Abel é um fora de série, sem dúvida. Se conseguir demonstrar mais respeito e carinho pela classe jornalística será um fora de série ainda mais excepcional.
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