O Botafogo convoca o Brasil a lembrar do tamanho que sempre teve
Vejo muita gente surpresa com a força nacional do Botafogo. Pelo país inteiro, pelos cantos mais remotos, aparecem botafoguenses em festa. Não deveria ser uma surpresa que assim seja. O Botafogo é o time de Didi, Garrincha e Nilton Santos. É o time do mais poético dos escudos: o da estrela solitária. A estrela que é na verdade um planeta: Vênus. Os primeiros remadores do Botafogo de Futebol e Regatas, saindo antes do Sol nascer para praticar, viam sempre no céu essa estrela solitária, que teimava em brilhar mesmo na iminência do nascimento do Sol. Nessa hora, um remador com alma de poeta deve ter pensado em desenhar um escudo com uma estrela solitária.
Vênus, na astrologia, é símbolo do amor, dos afetos, dos relacionamentos. Portanto: da arte de viver.
Imenso, o Botafogo escreve em 2024 a mais comovente das histórias. Em 2023 alcançou novos círculos do inferno ao entregar de forma bizarra e constrangedora um título que estava ganho. Foi ridicularizado, debochado, achincalhado.
Conhecido como um time apegado à melancolia e aos fracassos inesperados, não parecia possível renascer tão rapidamente. Mas o futebol é o teatro do incalculável e teima em nos lembrar disso. E o Botafogo fez de 2024 o maior de sua vida. Ou um dos maiores para quem, como eu, se recusa a medir a grandeza de um time pelos títulos conquistados.
John Textor talvez esteja sendo transformado pelo clube que ele escolheu para chamar de seu. O CEO, o executivo, o gestor pode ser visto aos prantos no gramado. No Rio, se mistura à torcida, entra em lives de botafoguenses, dança, canta, Se estiver atento terá entendido que time não é empresa e futebol não é negócio. O que ele fará com esse suposto entendimento ninguém sabe. Mas, levando em conta seu poder financeiro, eu diria que, se ele conseguir se transformar, pode escrever uma história como nenhuma outra.
Em 2023, Textor derrapou feio. Saiu acusando rivais de se venderem, saiu vociferando a respeito de manipulação de resultado, avisou que ia dar um jeito no futebol brasileiro. Tudo isso falando na língua dele; a nossa ele ainda não aprendeu. Sabe-se lá por que.
Seja como for, o Brasil hoje está coberto pela estrela solitária, iluminado por Vênus, reconciliado com o amor. É tempo de Botafogo. Mas deixo um alerta: nunca houve um tempo que não fosse de Botafogo. O Botafogo é e sempre foi - com ou sem título - uma imensidão. Escrevi esse texto antes da rodada final. Nada teria sido alterado nele por causa de resultados, taças, vices etc.
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