O Corinthians existe nas pequenas coisas
No momento em que André Ramalho colocou a bola dentro do gol do Juventude e deu a vitória - e a classificação - ao Corinthians na Copa do Brasil, os secadores - um povo que anda feliz à beça - pensaram: que chatice. Agora lá vêm esses corintianos e corintianas dizer que isso só acontece com eles e com elas. Vão berrar que é histórico, épico, heroico.
E eles teriam razão de pensar assim.
Estamos mesmo muito felizes hoje. Alguma fundamentalidade sobre alma e valores parece ter sido resgatada com o jogo dessa quarta-feira. O gol de André Ramalho é importante, mas não é o mais importante. Ser corintiano e corintiana é dar ao chutão de Bidon em direção à arquibancada importância equivalente. É saber que o carrinho de Romero para recuperar uma bola perdida também vale o ingresso. É compreender que o amor é feito das coisas miúdas e não das graúdas.
O Corinthians era Corinthians mesmo antes de ter mundial. Era Corinthians mesmo antes de ter Brasileiro. Era Corinthians mesmo durante as duas décadas sem levantar uma mísera taça. O Corinthians era Corinthians fora dos campos com Sócrates nos comícios contra ditaduras e autoritarismos. O Corinthians é o Corinthians no corpo e na alma de Basílio marcando o gol contra a Ponte em 1977.
É absolutamente normal que outras torcidas achem um exagero desproporcional celebrar desse jeito amalucado uma classificação em casa contra o Juventude. Assim como é absolutamente normal para a corintiana e para o corintiano que o jogo dessa quarta-feira já esteja entre os favoritos de uma vida.
Torcer é abraçar o exagero e a contradição. Torcer é sentir mais do que compreender, pensar, debater, estudar, analisar. Tem noites que são escuras e frias. Outras são pura magia.
O ano é ruim, a diretoria é, na melhor das hipóteses, destrambelhada, o horizonte ainda é nebuloso. Mas a noite de 11 de setembro de 2024 reservou para essa torcida que vem sendo tão maltratada e alienada de sua paixão uma história de resgate e de reencontros. Amanha, é provável, as coisas já não serão como hoje. Não importa. Por agora, tudo parece fazer sentido.
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