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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Culpar mulheres pela crise corintiana não é apenas superficial; é covarde

Thiago Asmar, o Pilhado - Reprodução
Thiago Asmar, o Pilhado Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

26/05/2023 19h57

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A crise institucional corintiana é um filme e não uma fotografia. Ela começa há alguns anos, se aprofunda antes de encontrar em Vitor Pereira um alívio e, com o pedido de demissão dele, volta a ganhar contornos.

Ela passa por escolhas ruins, por contratações duvidosas, pela deterioração da base, pela negligência a valores básicos como a democracia, a justiça, a solidariedade, a igualdade. Ela tem assinatura e tem história bastante evidente.

Mas há aqueles que, inundados de superficialidade, sigam insistindo em comentar a foto e não o filme.

Colocar a responsabilidade da atual crise na saída de Cuca e, ainda mais apelativo, na luta contra a contratação de alguém condenado por envolvimento em estupro, responsabilizando diretamente mulheres pela saída do treinador e, portanto, pela crise é uma covardia inominável que convoca de forma direta a torcida - ou parte dela - para seguir a jornada de agressões a mulheres.

O time feminino do Corinthians, ao se posicionar de forma corajosa contra a violência de gênero, até hoje é ofendido nas redes e sofre represálias.

Sugerir que a culpa é das mulheres que quiseram que Cuca saísse não é apenas uma análise miúda, superficial, tosca. É uma análise covarde.

Cuca não saiu porque um grupo de mulheres furiosas berraram.

Cuca saiu porque uma parte da imprensa resolveu investigar a condenação e voltou com fatos indizíveis a respeito do que aconteceu.

Ele saiu porque não houve como se sustentar diante do que foi apurado.

Ele saiu porque muitos e muitos homens se uniram ao coro.

Falar das manifestações contra a chegada de Cuca como se tivessem sido manifestações exclusivas de mulheres é uma inverdade adoentada de misoginia.

Falar da crise poupando Luxemburgo, a diretoria, as contratações, o time, a gestão da base e destacando mulheres para responsabilizá-las pelas recentes derrotas é golpe muito baixo.

Inventar situações para poder jogar mulheres aos leões é coisa de gente machista, misógina e pequena demais.