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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dinamite, obrigada por me mostrar tudo o que o futebol pode ser

Roberto Dinamite ao lado de sua estátua em São Januário: obra assinada pelo artista plástico Mario Pitanguy - Daniel Ramalho / Vasco.com.br
Roberto Dinamite ao lado de sua estátua em São Januário: obra assinada pelo artista plástico Mario Pitanguy Imagem: Daniel Ramalho / Vasco.com.br

Colunista do UOL

08/01/2023 12h47

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Existe uma história que fala de um menino que andando pela floresta achou um pássaro de canto que cantava o canto mais lindo. Ele pegou o pássaro e o levou para casa. O pai, enfurecido com aquela audácia, matou o pássaro de um golpe. Assim que o fez, caiu morto ele mesmo.

A história quer deixar como lição que ao matar o pássaro, matamos a música e, ao matarmos a música, morremos.

A morte de alguém como Roberto Dinamite funciona de modo oposto. Morre o corpo, mas não a música que saía de seus pés.

Vi Dinamite jogar e acho que ninguém usou com tanta imponência e beleza a cruz de malta no peito.

Houve outros músicos da bola que vestiram o uniforme cruzmaltino, mas ninguém o fez como ele.

Assistir a um Vasco e Flamengo nessa época era ver Dinamite e Zico numa mesma arena. Quem viu, viu. Era coisa demais, era beleza demais, era música demais.

Eu, uma criança, aprendia com esses fora-de-série a respeito do jogo que estava começando a amar.

Vestiam as cores dos rivais, mas faziam arte, me permitiam sentir, me contavam, com seus corpos, o que era a vida.

Hoje Dinamite faz sua transformação final. Ele, que transformou o jogo em arte sublime, agora sai de cena.

Sairemos todos um dia. Mas alguns de nós saem sob aplausos que vão ecoar por muito tempo.

Parte para seu último e mais imenso salto no vazio, como fez tantas vezes depois de marcar um gol.

Obrigada, Dinamite. Obrigada por me mostrar tudo o que o futebol pode ser.

Mesmo usando as cores de um rival, foi sempre impossível não te admirar.