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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que o silêncio de Bolsonaro diz

6.dez.2022 - O presidente Jair Bolsonaro (PL) durante posse de ministros do TRF2 e do TRF3 - Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo
6.dez.2022 - O presidente Jair Bolsonaro (PL) durante posse de ministros do TRF2 e do TRF3 Imagem: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

27/12/2022 10h45

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Jair Bolsonaro calou. Depois de décadas vomitando todo tipo de atrocidade, o homem silenciou. Desde a derrota para Lula não se escuta um pio da boca do futuro ex-presidente.

Mas há silêncios e silêncios.

Há um tipo de silêncio introspectivo que busca conhecimento e há a frouxidão do silêncio dos covardes.

O de Bolsonaro faz parte do último.

Não é um silêncio vazio de comunicação. Pelo contrário. O silêncio de Bolsonaro diz muitas coisas.

Diz, por exemplo, que ele não se importa com os recentes e assustadores atos terroristas abortados pela Polícia Civil em Brasília.

Ao não se importar, silenciosamente encoraja seu time de fanáticos a seguir com os planos traçados, quaisquer que sejam eles.

Historicamente, o silêncio do líder é bastante fundamental no fascismo.

É através desse silêncio que as milícias civis se movimentam, traçam rotas, decifram mensagens e, a partir da leitura que se sentem livres para fazer, cometem atrocidades sem que o líder possa ser diretamente responsabilizado por isso.

O silêncio é parte da estratégia nazifascista.

Seria simples Bolsonaro dizer alguma coisa como "Não aprovo nenhum ato terrorista, não aprovo delinquências cometidas em meu nome. Reconheço a derrota na eleição e, em nome da continuidade democrática, desejo sorte a meu sucessor".

Mas desde a derrota Bolsonaro não diz nada parecido.

Nem mesmo a derrota ele assumiu. Não telefonou ao vencedor, como manda o ritual da democracia.

Ele cala e, ao calar, autoriza a barbárie.

Será responsabilizado por tudo o que fez. Investigado, processado, condenado.

E esse silêncio conveniente vai ser colocado em seu devido lugar e reconhecido pelo que ele é: autorização para que atos antidemocráticos de todo o tipo sigam acontecendo.

Se nos próximos dias testemunharmos o pior, estará na conta desse que sai da presidência como o pior e mais cruel mandatário de todos os tempos.