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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A falsa preocupação com a representatividade no ministério de Lula

Francia Márquez e Anielle Franco, na Colômbia - Arquivo pessoal
Francia Márquez e Anielle Franco, na Colômbia Imagem: Arquivo pessoal

Colunista do UOL

24/12/2022 12h17

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O tema virou central: todos cobram representatividade nas indicações ministeriais do presidente eleito.

Mas seria o caso de apontar que há uma diferença nas cobranças.

Existem aqueles que cobram porque entendem que representatividade importa na construção de um novo país e existem aqueles que não acreditam em representatividade e, ainda assim, se autorizam a berrar "onde estão as mulheres, Lula?".

Esse é o mesmo grupo que apoiou o golpe em Dilma, que disse que Michel Temer estava formando, finalmente, um ministério técnico, que não se horrorizou vendo apenas homens brancos ao lado do golpista.

É o mesmo grupo que acreditou - ou fingiu acreditar - que a Lava Jato era uma operação contra a corrupção, que chamou Moro de enxadrista, que divulgava as informações vomitadas por Deltan e sua trupe sem checar, que disse que Paulo Guedes era um excelente quadro.

São aqueles que tentaram convencer multidões que Haddad e Bolsonaro eram equivalentes e que, no escurinho da urna, cravaram 17 - e provavelmente 22.

Esses e essas são os intelectuais que não se acanham em seguir promovendo a destruição do Brasil enquanto falam em pontes para o futuro, que detestam ver pessoas negras em situação de poder ainda que repitam que o racismo precisa acabar.

São os que acreditam em mulheres desde que elas cheguem ao comando e reproduzam as ações opressoras dos antecessores.

Essa turma de hipócritas agora diz estar preocupadíssima com representatividade no governo eleito.

Não está. Quer apenas causar.

Seguirá olhando para o que Lula faz com um microscópio moral jamais usado desde 2016.

Estamos atentos a esse pessoal. Quando Temer deu seu golpe eles ainda conseguiam se disfarçar, mas hoje nem tanto.

Cairão, um a um. Soterrados pelo concreto da hipocrisia que promovem no dia a dia.

Chafurdados em seu próprio veneno fétido, verão pessoas negras repletas de consciência social e de classe, assim como feministas de esquerda, compondo o mais democrático ministério já composto até hoje.

Os que cobram representatividade e alteridades a partir de um lugar de verdade seguirão cobrando em nome da construção de um país inclusivo e socialmente justo.