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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Imprensa precisa parar de reforçar a ideia de que Neymar é vítima de ódio

Richarlison abraça Neymar após gol da seleção brasileira contra a Sérvia, pela Copa do Mundo do Qatar - Maryam Majd ATPImages/Getty Images
Richarlison abraça Neymar após gol da seleção brasileira contra a Sérvia, pela Copa do Mundo do Qatar Imagem: Maryam Majd ATPImages/Getty Images

Colunista do UOL

28/11/2022 11h26

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Somos bons em inverter narrativas. Fazemos isso há 500 anos. Gostamos de dizer, por exemplo, que o Brasil foi descoberto. O Brasil não foi descoberto; foi invadido e ocupado.

A inversão se dá no momento em que arrancamos a terra de quem estava aqui e hoje falamos que são os excluídos que tentam tirar a terra de seus verdadeiros donos.

A todo o instante criamos narrativas que escondem delicadamente a história verdadeira. No limite, essas narrativas se chamam fake news.

No momento, a narrativa que tentam construir é a de que Neymar é vítima do ódio. Colegas da imprensa fazem isso, Ronaldo fez isso, Neymar faz isso.

A história não é essa e a criação da narrativa de Neymar no papel da vítima é cruel e perversa.

Neymar não é vítima de nada. Neymar está lidando com o impacto das atitudes que tomou na vida.

Ele se machucou, como tantos se machucam jogando bola, e aí não viu o país se comover coletivamente por ele.

Isso o incomodou e em vez de se implicar na situação, como faria um adulto maduro, tentando entender motivos e razões, Neymar escolheu se vitimizar.

A carta aberta de Ronaldo reforça esse lugar de menino Ney, o craque injustiçado.

Seria decente se Neymar parasse para buscar explicações para não ser unanimidade nacional.

Eu ofereço algumas.

Neymar apoia abertamente o presidente mais violento da historia do Brasil.

Um presidente cujas políticas econômicas adotadas construíram um cenário de 33 milhões de famintos e 125 milhões de pessoas que não sabem quando vão fazer a próxima refeição.

Neymar, que foi acusado pela Receita Federal de tentar driblar o IR, foi multado e correu para o colo de Bolsonaro para ter a multa de R$ 88 milhões suspensa.

A princípio, conseguiu o que queria, mas a Receita recorreu.

Durante a Copa, a gente ficou sabendo que Neymar comprou a terceira aeronave, no valor de aproximadamente R$ 50 milhões.

Vejam: ele usa o dinheiro dele, que ganhou honestamente por ser um dos maiores atletas da história, como bem entender. Mas o povo não é burro e faz a associação entre dívida e abundância de forma direta.

Quem tem R$ 88 milhões para pagar de imposto de renda é porque ganhou 100, 200 vezes isso. O número isolado pode parecer enorme, mas ele é um percentual sobre ganhos.

Dinheiro de imposto de renda serve para construir hospital, escola, creche.

Esse é o Neymar que quer a inconteste solidariedade da nação diante de um tornozelo inchado?

Neymar disse que apoiou Bolsonaro porque tem os mesmos valores que ele.

Os valores de Bolsonaro são a homofobia, o machismo, o racismo, a tortura, o estupro como elogio, a aniquilação de quem pensa diferente dele, a simpatia por Hitler, a negação do Holocausto e o acolhimento de sua base nazifascista de apoiadores.

Quem compartilha disso é o quê?

Neymar apoiou um presidente que dissemina o ódio, a morte, a destruição, a devastação.

Apoiando esse monstro, Neymar colaborou para o aumento do discurso de ódio no Brasil.

Colocar Neymar como uma vítima da naturalização do discurso de ódio é perverso com a população brasileira, massacrada por esse governo apoiado por Neymar.

Neymar atuou, isso sim, como agente do ódio.

Reforçar a vitimização de alguém que apoia esse horror é inverter desonestamente a narrativa.

Ninguém desejou que Neymar se machucasse, mas milhões não ligaram quando ele se machucou porque há pelo menos quatro anos ele não liga para os profundos e injustos machucados dessa nação.

Essa é a história. O resto, com todo o respeito, é berçário de fake news.