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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Jogador de vôlei eleva a homofobia a um novo patamar

Jon Kent é o novo Superman, filho de Clark - Divulgação/DC
Jon Kent é o novo Superman, filho de Clark Imagem: Divulgação/DC

Colunista do UOL

14/06/2022 17h20

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Mauricio Souza é aquele jogador que fez post em rede social criticando beijo entre dois personagens masculinos. De cartoon.

A postagem é homofóbica em si. Não há como tentar pegar desvios para começar a argumentar que a postagem não é homofóbica.

Quem faz postagem homofóbica é homofóbico.

Feito esse exercício de lógica, vamos ao novo desenrolar da questão.

Sem ter se arrependido da postagem homofóbica, o atleta que hoje está sem time e anda (ou andou) flertando com uma carreira política se candidatando por algum partido bolsonarista (que surpresa), agora reclama que na época em que cometeu a postagem homofóbica não foi apoiado por Douglas Souza, jogador de vôlei assumidamente gay e que era seu colega na seleção.

Pois vejamos: o rapaz comete ato homofóbico, é convidado a se explicar e, enquanto elabora a explicação, reclama que o colega gay não o apoiou na época.

Mauricio gostaria que Douglas tivesse vindo a público dizer que ele não era homofóbico mesmo depois de fazer uma postagem homofóbica.

Ele gostaria que o colega gay tivesse se submetido à humilhação de se sujeitar à homofobia do ato negando que Mauricio fosse homofóbico. "Passa por maluco aí e sai em minha defesa".

Que tipo de pessoa acha decente que alguém se curve a esse nível servidão moral? Em nome do quê? De ficar bem na fita com o amiguinho homofóbico?

Na mesma entrevista, Mauricio diz, ainda para tentar explicar o que considerou omissão do colega, já ter percebido que Douglas estava "fora da casinha".

Então o que temos é: um homem que comete homofobia, que mete o colega gay numa história que não era dele, que reclama que o colega gay não veio a público dizer que ele não seria homofóbico (porque dava bom dia e boa tarde? Por que não se negava a usar o mesmo vestiário? Não sabemos), e que ainda tem a ousadia de insinuar que o gay que ele enfiou na história está louco - uma saída machista e misógina para uma história já altamente repleta de preconceitos.

Essa não é uma história sobre Douglas. É sobre a homofobia de Mauricio. Colocar o homossexual na trama, e como culpado, é apenas mais um gesto de indecência. É o marido que bate na mulher e exige que ela diga que ele é bom marido porque coloca grana em casa, porque vê TV ao lado dela, porque elogia o jantar.

Dar bom dia e boa noite ao colega gay não é suficiente para alegar sua não-homofobia.

A homofobia é uma estrutura de poder, não apenas um desvio ético. A homofobia se pratica com postagens homofóbicas, com brincadeiras que diminuem e excluem, com frases que ridicularizam enquanto se disfarçam de piadas. Homofobia é achar que uma relação heterossexual é a única correta, é dizer que Deus quis homem com mulher, é tornar hegemônica apenas uma forma de relacionamento.

Na mesma entrevista, o Mauricio diz que os dois se davam bem, a despeito de ele talvez, quem sabe, já ter feito piadas com Douglas.

Mauricio pode repetir milhares de vezes a frase "eu não sou homofóbico" e ainda assim terá que escutar a verdade: a de que ele é homofóbico.

Fazer piada com a sexualidade de alguém também é homofobia. Culpar o colega gay por não ter defendido as acusações de que ele seria homofóbico é perversão e crueldade.

Homofobia não se nega ou se afirma. Homofobia se pratica. E, na prática, Mauricio Souza está infectado de homofobia da cabeça aos pés.