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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que Daniel Alves deveria ser tirado da lista de Tite

Daniel Alves (13) cumprimenta presidente Jair Bolsonaro no Maracanã após título da Copa América - Wagner Meier/Getty Images
Daniel Alves (13) cumprimenta presidente Jair Bolsonaro no Maracanã após título da Copa América Imagem: Wagner Meier/Getty Images

Colunista do UOL

05/04/2022 11h48

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No dia 7 de setembro de 2021, Daniel Alves foi às redes sociais fazer uma manifestação de teor patriótico usando o lema Bolsonarista de "Deus acima de tudo". A mensagem deixava claro que valores morais Dani Alves estava defendendo. Não há mais como tentar justificar apoio a Jair Bolsonaro, muito menos ao deus que ele celebra. Nunca houve, verdade, mas antes das eleições os meios de comunicação mais influentes trataram de legitimar e naturalizar a candidatura bolsonarista, então coloquemos na conta da desinformação, da ignorância e do desespero uma parte do apoio que ele recebeu. Passados três anos de uma presidência absolutamente indefensável, que mistura liberalismo, fascismo e vulgaridade como nunca antes na história, qualquer um que siga estabelecendo ligações com Bolsonaro e seus ideais deveria ser desligado de suas funções.

É o caso de Daniel Alves, como mostra texto investigativo de Constança Rezende e Italo Nogueira para a Folha. Dani Alves e Emerson Sheik fizeram uso de dinheiro público, aplicando uma chicana legal, para alimentar suas organizações de cunho social.

A armadilha ética faria alguém perguntar: esse é um homem que pode seguir vestindo a camisa da seleção? Vou deixar pra lá os atuais valores simbólicos da camisa amarela e considerar estar falando aqui da camisa que, daqui a alguns meses, vai defender as cores desse país num campeonato mundial.

Tite sempre foi um homem que tentou se ligar às causas corretas. Dava declarações pertinentes, fazia defesas coerentes. Uma pulga passou a percorrer a parte de trás de minhas orelhas quando ele disse "sim" ao chamado da CBF. Ninguém se liga à CBF impunemente.

Mas, em meus devaneios, ele iria colocar alguma moralidade na associação. Não aconteceu. E Tite calou. Calou diante das acusações de violência sexual cometida pelo então presidente, achou de bom tom contratar seu filho como assistente e segue calado a respeito do nepotismo, calou quando uma Copa América foi trazida para o Brasil no auge da pandemia, calou quando Daniel Alves se manifestou a favor de um presidente de tendências fascistas, calou quando a Copa foi levada à monarquia absolutista do Qatar, país que ignora os mais básicos direitos civis. Calou e segue calado.

Calará agora diante de acusação tão grave como a levantada pelo texto de Rezende e Nogueira? É bastante provável que sim. Como também é provável que siga convocando Daniel Alves.

Se o lateral estivesse batendo um bolão, ainda assim deveria ser cortado por serviços não prestados à população brasileira, por se aliar ao que o Brasil tem de pior, por ignorar todas as violências cometidas por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, por dar as costas para o cidadão e a cidadã desse país. A seleção brasileira deveria fazer muito mais do que jogar futebol - especialmente em tempos de guerra. E, para quem ainda não percebeu: estamos no meio de uma guerra.