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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Milly: O garoto Endrick provoca dois tipos de sentimentos: esperança e medo

Endrick, joia da base do Palmeiras - Reprodução/Twitter
Endrick, joia da base do Palmeiras Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

12/01/2022 16h06

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Num dia, Endrick explode como craque raro. As redes sociais não se cansam de mostrar vídeos com as jogadas dele em campo. Em looping, a gente se delicia com tanto talento. Quinze anos, nos dizem. É um garoto, está só no começo, completam. Imagino o orgulho do palmeirense e da palmeirense. Que maravilha ficar revendo os lances que ele protagonizou até aqui na Copinha. As manchetes preveem: "Endrick pode jogar o Mundial pelo Palmeiras". Só boas notícias.

No dia seguinte, o mesmo noticiário avisa: "Real Madrid monitora Endrick", "Clubes da Premiere League estão de olho em Endrick", "Europa descobre Endrick e estuda tirá-lo do Palmeiras".

O torcedor e a torcedora não têm um segundo de paz. Num momento, a alegria da descoberta de um talento. No momento seguinte, a imagem de Endrick assinando com um dos grandes na Europa e embarcando. O que sentir? Medo ou esperança?

Medo e esperança são dois afetos de um mesmo eixo temporal: o da expectativa. Sentir medo é achar que as coisas podem dar errado lá na frente. Quem acha que as coisas podem dar errado lá na frente sabe que elas também podem dar certo. A esperança está eclipsada, mas ela está ali.

Quem tem esperança está projetando no tempo a ideia de que tudo vai dar certo. Se as coisas podem dar certo, elas também podem dar errado, então o medo está também em campo.

Medo e esperança se articulam como irmãos siameses: uma hora um, outra hora outro. Endrick está nos fazendo sentir essa gangorra e seria ótimo conseguir sair dela.

Mas para sair dela precisamos atuar na chave do momento presente.

No presente, Endrick nos diz que por mais que tentem destruir o futebol, jamais deixaremos de formar esses talentos raros. Diz também que se houvesse mais investimento e interesse na base, outros Endricks apareceriam.

Diz que temos que deixar de ser capacho da Europa, da Ásia, do Oriente Meedio porque o que nós temos eles não têm, o que nós fazemos eles não fazem.

Colocar os dois pés no aqui e agora também é bom para que a gente se pergunte quem ganha se Endrick sair tão prematuramente?

São reflexões que podemos fazer entre um drible e outro, entra uma finta e outra, entre um gol e outro.

O que não podemos fazer é aceitar passivamente a realidade de que clubes brasileiros formam craques que são vendidos precocemente para passar anos admirando o cara arrebentar lá fora e, quando ele fizer 34 anos, comprar de volta como se estivéssemos fazendo um grande negócio.

Será que não existem alternativas a esse cenário? Enquanto penso, me emociono vendo Endrick jogar. É, de fato, um espetáculo muito brasileiro.