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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Milly: Samba Enredo da Gaviões da Fiel para 2022 é um chamado à luta

Gaviões da Fiel desfila na segunda noite de carnaval no Anhembi - Ricardo Matsukawa/UOL
Gaviões da Fiel desfila na segunda noite de carnaval no Anhembi Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

Colunista do UOL

11/01/2022 12h02

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A história do nosso futebol passa pela história das torcidas organizadas. Vítimas de muitos preconceitos e racismos, sempre marginalizadas, sempre criminalizadas, as organizadas são expressões da nossa cultura, dos modos como sentimos e percebemos o jogo, dos modelos que usamos para torcer, cantar, dançar, vibrar, sofrer.

A Gaviões da Fiel nasceu no mesmo dia que eu: 1º de julho; uma torcida canceriana, portanto. Na primeira vez que vi a Gaviões se manifestando fora de uma arquibancada eu caí num choro profundo. Naquele momento entendi a potência da união de uma organizada, como essa força se alarga para fora do estádio, que afetos faz circular.

Para 2022, a Gaviões vem com um samba-enredo irretocável. É um chamado para a luta da transformação. É o mais belo alinhamento com a história do clube, com as opressões das populações periféricas, com essa "pátria-mãe hostil".

Assim como fez a Mangueira em 2019 com o comovente e inspirador "Histórias para Ninar Gente Grande", o samba enredo da Gaviões desse ano é político, revolucionário e poético - como não poderia deixar de ser.

Aqui vão a letra e o vídeo:

Sou eu, o filho dessa pátria-mãe hostil
Herdeiro da senzala Brasil
Refém da maculada inquisição
Axé meu irmão!
O pai de mais um João e de mais um Miguel
Na mira da cega justiça que enxerga o negro como réu
Sou eu o clamor da favela
O canto da aldeia, a fome do gueto
Meu punho é luz de Mandela
No samba o levante do novo Soweto
Cacique Raoni da minha gente
Guerreiro gavião, presente!

Essa terra é de quem tem mais
Conquistada através da dor
As migalhas que você me oferece
Só aumentam minha força pra mostrar o meu valor

Meu lugar de fala, a voz destemida
Cabeça erguida por nossos direitos
Quando o fascismo do asfalto
É opressor à militância por respeito
O ventre das mazelas sociais
Ante ao preconceito vai se libertar
Vidas negras nos importam
O grito da mulher não vão calar
Meu gavião chegou o dia da revolução
Onde a democracia desse meu Brasil
Faça o amor cantar mais alto que o fuzil

Escute o meu clamor
Oh, pátria amada
É hora da luta sair do papel
Basta é o grito que embala o povo
Eu sou Gaviões, sou a voz da fiel