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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Milly: Ted Lasso e a urgência de buscarmos alguma inocência em nós mesmos

Brendan Hunt e Jason Sudeikis em "Ted Lasso" - Divulgação/Apple TV+
Brendan Hunt e Jason Sudeikis em 'Ted Lasso' Imagem: Divulgação/Apple TV+

Colunista do UOL

01/10/2021 13h25

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"Se Deus quisesse que os jogos terminassem empatados, Ela não teria inventado números". Assim disse Ted Lasso, a personagem da série de mesmo nome exibida pela Apple+. Lasso é o treinador de futebol americano de um time amador de Kansas, nos Estados Unidos, que é contratado por um time de futebol inglês (Richmond) para disputar a Premiere League. A premissa é maravilhosa, mas a realização é ainda melhor.

Lasso chega a Richmond, a cidade que abriga o time, sem saber nada a respeito do nosso futebol. É uma história previsível e retumbante de fracasso - e é exatamente isso o que busca a atual proprietária do Richmond F.C, que ficou com o time depois da separação e que quer arruiná-lo para, assim, enfurecer o ex-marido, que ama o Richmond sobre todas as coisas.

Assim começa a série, que recentemente ganhou sete Emmys e que está na segunda temporada. Lasso não precisa de mais de um episódio para conquistar nossos corações. A personagem central - o treinador - é inocente sem ser ingênuo, firme sem ser autoritário, disciplinado sem ser tedioso. Lentamente, ele vai conquistando todos ao redor com suas frases de efeito, com seu jeito inabalável diante de tanta raiva e ofensa jogadas em sua direção, com seu sorriso farto.

É preciso abrir espaço para o ridículo dos trechos que envolvem o jogo em si, aceitar o absurdo de algumas cenas e se deixar levar pela honestidade do sujeito simpático e risonho que vem do interior dos Estados Unidos para virar celebridade em Richmond.

Lasso é exatamente tudo aquilo que precisamos hoje: inocência, alegria a despeito dos deslizes, honestidade, leveza diante da tristeza e da derrota. É impossível não se encantar ou não rir.

Em um dos episódios ele decide ensaiar algumas jogadas inspiradas no futebol americano e - não vou dar spoiler - a situação sai um pouco do controle antes de chegar a uma apoteose. Parece mesmo inverossímil que jogadas como essas caibam no futebol, mas também parece inverossímil que estejamos com nossa imaginação tão bloqueada há tantos anos e que a última grande novidade tenha sido a de colocar um pobre coitado deitado atrás da barreira para que a falta não seja batida rasteira.

Ted Lasso é para quem está a fim de se divertir mas não tem medo de chorar. Recomendo.

Algumas frases de Lasso:

"Eu amo um vestiário. Tem cheiro de potencial."

"Tem dois botões que nunca gosto de apertar: o do pânico e o do snooze."

"Não ligo muito para vitórias ou derrotas. Ligo para fazer os jogadores serem o melhor que podem ser, dentro e fora de um campo."

"Acho que você tem tanta certeza de ser um cara especial, um no meio de um milhão, que se esquece que tudo o que precisa ser é um no meio de onze.

"Sabe qual é o animal mais feliz do mundo? O Gold-Fish. Sabe por quê? Ele tem uma memória de 10 segundos."

"Ted, você acredita em fantasmas?"

"Sim, mas o mais importante é que eles acreditem em si mesmos"