Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Parar antes de quebrar é sinal de potência; mas quem entre nós pode parar?
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Sobre a condição de pressão que existe na vida de todo atleta de ponta, o tenista Novak Djokovic disse que pressão é privilégio e que quem conquista um lugar na elite do esporte precisa saber lidar com ela. Discordo. Privilégio é poder parar. Um tipo de privilégio ligado à sabedoria e à preservação.
A ginasta americana Simone Biles, uma das sensações desses Jogos e do esporte em geral, teve a ousadia, a petulância, a coragem de dar um passo à frente e dizer: eu fico por aqui. Quantos de nós seríamos inundados desse tipo de audácia?
Saúde mental é coisa séria e deveríamos falar mais sobre isso. A depressão foi considerada pela OMS o mal do século 21, o Brasil é o primeiro no ranking mundial da ansiedade e o número de suicídios segue aumentando.
Então, estão certas as pessoas que apoiam Biles, que trazem para o debate a saúde mental, que repetem "sim, temos que ter a coragem para parar"
Mas quem são aqueles que entre nós podem parar?
Podem parar os entregadores? Podem parar as trabalhadoras domésticas? Podem parar as mães da periferia? Podem parar os motoristas de ônibus? Os caminhoneiros? Enfermeiras? Podem parar as pessoas que dependem daquele salário para comer, vestir, morar?
Há uma classe de pessoas nesse mundo que simplesmente não pode parar mesmo na iminência de quebrar, de pifar, de morrer. Dessa classe de pessoas depende o sistema para seguir se reproduzindo e o Capital para seguir se acumulando. É essa classe de pessoas que sustenta uma outra classe: os excêntricos bilionários que atualmente se dedicam a passear for a da troposfera em seus foguetes particulares.
Biles e quaisquer outras pessoas que se sentem à beira de um abismo deveriam ter o direito de parar. Mas num mundo onde uma dúzia de homens brancos acumula a mesma riqueza que metade da população do planeta, parar é privilégio.
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