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Milly Lacombe

OPINIÃO

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Sylvinho chega, fala em intensidade para recuperar identidade e faz sonhar

Sylvinho foi apresentado no Corinthians na manhã desta terça  - Rodrigo Coca/ Ag. Corinthians
Sylvinho foi apresentado no Corinthians na manhã desta terça Imagem: Rodrigo Coca/ Ag. Corinthians

Colunista do UOL

25/05/2021 13h57

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Entre os nomes pretendidos pela diretoria corintiana, o de Sylvinho era meu predileto. Cria do terrão, entende o que é o Corinthians. E não digo isso querendo sugerir que o Corinthians é mais, melhor ou maior do que outros, mas que possui características próprias que precisam ser resgatadas.

Todo clube tem uma identidade, e o torcedor e a torcedora sabem perfeitamente qual é a identidade do time do seu coração porque é nessa troca que formamos parte da nossa subjetividade. Ninguém escolhe um clube por acaso e, na vasta maioria das vezes, são essas identidades que nos puxam pelo coração e nos fazem essas bestas alucinadas e desvairadas capazes de amar um time como se ele fosse uma pessoa. (Sim, eu sei que nossos times são como pessoas quando se trata dessa paixão).

Um time que nega sua identidade para se moldar ao que o momento pede, ao que o futebol parece exigir, ao mercado, ao sistema etc não vai longe. O que Jorge Jesus fez no Flamengo, antes mesmo de formar um time super-campeão, foi resgatar essa pedra fundamental do que é o clube: vibrante, popular, colorido, criativo. Crespo no São Paulo e Abel no Palmeiras entenderam essa verdade e também foram atrás do resgate da alma do clube. Cuca está buscando fazer a mesma coisa no Galo.

Sylvinho chega falando em coisas que são fundamentais para qualquer corintiano e corintiana: concentração, intensidade, alma, entrega, trabalho, luta. "Eu tô pronto para essa massa que é o Corinthians", disse o novo treinador durante a coletiva.

Um técnico jovem ganha experiência aceitando desafios complexos. Sylvinho já tem a teoria (estudou muito o futebol dos livros, dos esquemas, dos treinamentos), já tem o conhecimento de ter trabalhado com alguns dos maiores (Tite, Pep) e tem sua história como jogador misturada ao espírito do que é o Corinthians. "Nós somos exemplo para uma sociedade. Representamos uma sociedade", disse ele ao ser apresentado.

Outras coisas que me chamaram a atenção na apresentação de hoje: Sylvinho deixou claro que inegociável pra ele é falta de concentração. Disse que não admite jogador que não esteja totalmente inserido no trabalho, que vai entrar em campo para lutar e que a prioridade é o próximo jogo. Falou também que futebol é construção e movimento. Repercutiu Guardiola ao brincar, falando sobre seus esquemas táticos prediletos, que 4-4-2 parece número de telefone porque os jogadores nunca estão parados em campo (ele talvez não tenha visto alguns jogos do Corinthians esse ano, claro, mas o torcedor e a torcedora sorriem aliviados ao escutar esse tipo de declaração).

Ao se comunicar, Sylvinho deixa escapar um leve sotaque. Fora do Brasil há muitos anos, é apenas natural que a língua-materna se misture à língua da morada. E essa pode ser uma receita ideal: uma pitada de Europa, um tanto de Brasil e uma dose grande de Corinthians.

Se a coletiva de Sylvinho tivesse uma música-tema ela seria Go Back, dos Titãs: "Só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder". E se a palavra de ordem para o time nessa nova jornada é "concentração", para a torcida é "paciência": uma equipe competitiva nasce, antes de mais nada, no dia em que um projeto sério, coerente e consistente é inaugurado. Que assim seja.