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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O Corinthians é dos Rauls

Raul Gustavo marcou seu primeiro gol como profissional do Corinthians  - Rodrigo Coca/ Ag. Corinthians
Raul Gustavo marcou seu primeiro gol como profissional do Corinthians Imagem: Rodrigo Coca/ Ag. Corinthians

Colunista do UOL

26/04/2021 12h58

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O jogo entre Corinthians e Santos havia começado há menos de 20 minutos e, ao que parecia, seria mais uma partida tediosa protagonizada por dois times que não andam oferecendo bons espetáculos em campo. Mas aí o zagueiro corintiano Raul pegou a bola e foi indo em direção ao gol adversário. Uma subversão em tempos de esquemas de jogo convencionais e caretas. Onde ele estava indo?, pensei. Vai deixar a defesa descoberta, devem ter gritado muitos aspirantes a treinadores retranqueiros. Raul não ouviu esses ecos e seguiu seu caminho. Na entrada da área chutou um chute seco, que tinha destino certeiro não fosse a excelente defesa de Vladimir, o goleiro com nome de lateral esquerdo.

A noite era de Raul. Depois disso fez um gol calculado, colocando um rebote no canto com uma categoria de espantar, especialmente pela rapidez do lance. Ele ainda criaria uma outra chance de gol (ele é zagueiro, já disse mas não custa repetir).

Quando exigido em sua função, ele esteve ali. Errou um passe no meio de campo que poderia ter resultado em contra-ataque perigoso, mas nas noites em que a Lua está brilhando para você não há contra-ataque que encaixe.

Raul dedicou o gol à irmã Fabiola, que morreu há menos de um ano em acidente de trânsito. Por isso, logo depois de marcar, ele chorou. Quem já sofreu uma perda como essa sabe que o luto, essa viagem cheia de curvas, não passa rapidamente e leva a gente a ziguezaguear por anos. Raul deve estar nessa estrada, e a noite desse domingo 25 de abril jamais será esquecida por ele.

Nem pelo torcedor e pela torcedora do Corinthians, tão desesperados e desesperadas por uma rufada de esperança, alguma emoção que permita sonhar sonhos bons.

Os que acompanham a base do Corinthians avaliam que a partida contra o Santos não mostrou um Raul diferente do que ele normalmente é: jogador com potencial para ser ídolo. Zagueiro canhoto, cheio de personalidade, impulsão impressionante, talento com a bola no chão.

Dois mil e vinte um não é ano pra título no Corinthians; é ano para voltar para casa, reconhecer seus Rauls e, a partir dali, reconstruir.