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Marluci Martins

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Goleada sobre o Paraguai era obrigação

Jogadores da seleção brasileira comemoram vitória sobre o Paraguai - Alessandra Torres/AGIF
Jogadores da seleção brasileira comemoram vitória sobre o Paraguai Imagem: Alessandra Torres/AGIF

02/02/2022 11h11

Não é pessimismo, mas realismo. Ou, talvez, esses quase 20 anos de jejum de Copa do Mundo traumatizaram o coração aqui. O fato é que não vejo poesia nem proeza em uma vitória da seleção brasileira sobre um combalido Paraguai. Estou falando de um adversário que ocupa a bainha da tabela de classificação das eliminatórias Sul-Americanas para o Mundial do Catar, é vice-lanterna. O Paraguai foi quem menos venceu na competição modorrenta iniciada em 2020: apenas dois triunfos em 16 jogos, façanhas alcançadas justamente sobre a Venezuela, tadinha, a lanterna incompetente entre dez participantes de nível duvidoso.

E não é que o ataque paraguaio consegue ser pior do que o venezuelano? São nove gols (!!!) contra 14, minha gente.

Não enxergar as fraquezas do Paraguai impossibilita qualquer análise séria que se possa ter a partir da vitória do Brasil por 4 a 0 na noite da última terça-feira, no Mineirão. Pra não dizer que só falei dos espinhos, vejo com esperança os jovens Raphinha, Matheus Cunha, Vinicius Júnior, Rodrygo e Antony. É preciso dizer também que golaço de Phillippe Coutinho e sua boa atuação salvaram a insistência de Tite em convocá-lo e reabrem seus horizontes na seleção. E Marquinhos jogou muito bem também.

Mas, a nove meses da Copa do Mundo, uma goleada sobre o Paraguai não serve para elucidar questões. O veterano Daniel Alves, no momento com 38 anos, vai aguentar se desdobrar para marcar adversários bem mais competentes do que os paraguaios que fizeram só nove gols em 16 jogos, como já escrevi no início desse texto? Dá pra usar Phillippe Coutinho, Paquetá e Neymar tudo junto e misturado? Vinicius Júnior até lá vai deslanchar com a camisa amarela como na Europa? Já são 11 jogos pela seleção e nenhum gol. E, a pergunta que não quer calar: quem será o centroavante do Brasil na Copa do Mundo?

São muitas perguntas para pouco tempo, mas não é justo culpar Tite por tudo. Fica difícil armar a seleção em um voo cego, a partir de testes contra seleções tão frágeis, em uma competição de duração interminável. O perigo de um vexame na Copa passa - e muito - pelo sucesso do Brasil nas Eliminatórias. Por isso, é melhor esquecer que entramos no mês de fevereiro vencendo o Paraguai por 4 a 0. Que Tite não leve em conta também o recorde de maior sequência invicta em toda a história das Eliminatórias. Esses 32 jogos sem derrotas de nada servem a não ser para criar ilusões e aumentar expectativas e o tamanho de um eventual tombo. Não somos nada.