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Marluci Martins

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Felipe Melo vai ter de morder a bola para ser unanimidade no Fluminense

Felipe Melo vestirá a camisa 52 em alusão ao título que o Fluminense considera como Mundial - Mailson Santana / Fluminense
Felipe Melo vestirá a camisa 52 em alusão ao título que o Fluminense considera como Mundial Imagem: Mailson Santana / Fluminense

16/12/2021 14h21

Quem é o Felipe Melo que, aos 38 anos, chega ao Fluminense como reforço de peso para a próxima temporada? A dúvida divide a torcida em sentimentos extremistas de alegria e ódio. Compreensível que seja assim. Afinal, as dualidades sempre pautaram a vida desse jogador, a começar pela crise de identidade produzida por seu apelido: ele é Pitbull, mas gostaria de ser Labrador.

Não pode reclamar da fama. Felipe Melo foi quem traçou ao longo da carreira sua própria caricatura: dentes afiados, revolta nos olhos, espuma de ódio no canto da boca ligeiramente torta. E uma arminha na mão na execução do Hino Nacional, opção política, talvez, da maioria do seu meio, mas um estardalhaço quando a mão é sua. Bem-feito, diga-se de passagem, quem mandou mexer com assunto que não é da sua praia? A arminha ridícula vira canhão, vai vendo...

Da raça Labrador, Felipe Melo não tem muito mais do que a afável imagem produzida recentemente: o jogador emocionado, que fofo, vai realizar o sonho do pai e jogar pelo Fluminense, até que a morte os separe. Pausa para lágrimas. Nem a Lassie faria melhor; quem sabe o Marley?

O aval de Fred à contratação é um ponto e tanto. Afinal, o ídolo tricolor tem a capacidade de influenciar boa parte da torcida, cumprindo bem o papel que a merecida condição de líder lhe confere. Ainda assim, conforme os vitrais franceses das Laranjeiras sabem, a torcida anda dividida das redes sociais aos botequins mais vagabundos.

"Cancelei meu Sócio Torcedor depois do Felipe Melo", anunciou alguém.

"Minha filha curtiu porque, segundo ela, foi um pedido do Fred, né? E ela ama o Fred e tudo o que ele faz", disse-me uma amiga.

"Peguei a tal Influenza, não paro de suar, fico tonta, muito ruim. E, para piorar, ainda li a notícia da contratação do Felipe Melo", escreveu-me outra, equilibrando o termômetro em uma das axilas.

Todo esse texto vai chegando ao fim, e nenhuma linha foi dita a respeito do futebol do Felipe Melo, já emprestado à seleção brasileira, titular na Copa de 2010, na África do Sul. Não é má vontade afirmar que o Fluminense estaria bem servido na posição só com o André, de 20 anos, revelação do Campeonato Brasileiro. Mas seria injusto deixar de elogiar a técnica e, também, a boa ascendência do recém-contratado sobre grupos de que fez parte. Acontece que, ao longo da vitoriosa carreira, Felipe Melo escolheu deixar as polêmicas em evidência, fazendo sombra sobre seu futebol. Queria pelo de Labrador, mas construiu-se como Pitbull.

Para ser unanimidade no Fluminense, vai ter de morder a bola.