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Marília Ruiz

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Marília Ruiz: Vamos desdenhar do problema do Neymar?

Neymar fica caído no gramado em lance da partida entre Brasil e Colômbia pelas Eliminatórias - REUTERS/Luisa Gonzalez
Neymar fica caído no gramado em lance da partida entre Brasil e Colômbia pelas Eliminatórias Imagem: REUTERS/Luisa Gonzalez

11/10/2021 13h20

Neymar diz que não está feliz. Neymar diz que talvez não tenha força mental para seguir na seleção depois da Copa de 2022. Neymar suplica o reconhecimento, o carinho, os likes e os retweets de vocês. Neymar está nas manchetes mais pelo que diz - e menos pelo que tem jogado.

E ainda assim desdenhamos do Neymar.

Por quê?

Pobre menino rico...

Neymar, melhor jogador brasileiro surgido neste século, é maior fora dos gramados do que dentro dele: a coleção de troféus é que deveria ser maior, não?

A resposta não é tão óbvia. Será que ser feliz (para ele) está no futebol? Está na competição? Está na volta olímpica? Quem se esquece do desabafo pós-ouro no Rio?

Até por ser mais carismático (e campeão do mundo; frise-se), Ronaldinho Gaúcho conta com uma legião de fãs que entendem que ele achou a felicidade em uma carreira curta, fulminante e vencedora. Por ser mais transparente com seus problemas extracampo, Adriano também ganha mais "carinho".

O que acontece com Neymar? Há mais de dez anos debatemos mais o personagem do que o jogador. A coleção da S/A Neymar (jatinho, helicóptero, mansões, pôquer, propagandas e escândalos) ganha da coleção do craque.

Antes era a obsessão por ser o melhor do mundo. Agora é uma angústia quase palpável por ter que jogar.

Ao mesmo tempo que se deseja que Neymar possa cuidar dele próprio, é dever de Tite cuidar da seleção brasileira.

O efeito negativo dos problemas do Neymar foi evidente na Copa de 2014 e de 2018.

A contusão dele no Mundial do Brasil acentuou ainda mais o (des)equilíbrio emocional de um time incapaz de lidar com pressão. Em 2018, o efeito cai-cai que virou meme mundial, deixou o Brasil com um craque blindado, tratado como bibelô e que, adulto então aos 26, não respondia nem as perguntas dirigidas a ele.

Se é difícil ser Neymar, ele precisa de ajuda profissional (não de palminhas virtuais dos parças).

Se é difícil sem Neymar, a seleção precisa trabalhar no ano que falta até a Copa do Catar para não pagar o preço por desdenhar do que está mais do que óbvio.