Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Marília Ruiz: Com ruptura no horizonte, CBF e Federações se enfraquecem
A bomba detonada ontem pelo documento assinado por 19 dos 20 clubes da Série A teve efeitos imediatos, óbvio, mas o que se espera nos próximos dias são rupturas ainda mais dramáticas.
Alijadas do movimento de seus filiados, as federações estaduais assistem ainda assustadas aos desdobramentos do movimento que quer a criação imediata de uma Liga para organizar o Campeonato Brasileiro e quer mais peso político aos votos dos clubes na Assembleia Geral da CBF - com diminuição do poder da CBF e da força controladora das federações.
O atual estatuto da CBF prevê dois tipos de Assembleia Geral: a administrativa; e a eletiva. É a "Assembleia Geral Administrativa" que decide, por exemplo, pelo afastamento do presidente - e dela só participam as 27 federações. Os clubes, com votos de peso menor, só participam da "Assembleia Geral Eleitoral": os votos das 27 federações têm peso 3 (somando 81); os votos dos 20 clubes da Série A têm peso 2 (somando 40); e os votos dos clubes da Série B têm peso 1 (20). É essa concentração de poder nas mãos das federações estaduais que os clubes querem derrubar.
O movimento é sem volta e, aparentemente bastante coeso.
Em entrevista exclusiva a essa colunista e colegas do "Bola Rolando" do "Bandsports", Romildo Bolzan afirmou que a data 15 de junho é histórica e não haverá "retrocesso". O presidente do Grêmio também deixou claro que o movimento dos clubes não inclui a participação das federações de nenhum Estado.
"Não conversamos ou chamamos a Federação Gaúcha (para falar do documento e da criação da Liga), porque esse é um pleito dos clubes. No âmbito regional, posteriormente, vamos discutir assuntos locais", disse com o presidente do Grêmio.
Bolzan também confirmou que o assunto (não) liberação de jogadores para a Seleção Olímpica foi discutido e que muitos clubes estão descontentes com o calendário atual "prejudicado" pelos compromissos das seleções. Na semana passada, o Flamengo entrou com pedido no STJD de paralisação do Brasileiro-21 por causa da quantidade de jogadores que precisou ceder para a Copa América. Com a pré-lista do técnico Jardine para Tóquio revelada, mais times devem engrossar o coro dos descontentes.
A fragilidade da CBF e a consequente obsolescência das federações estaduais faz com que os clubes, enfim, pareçam estar confortáveis em retomar o protagonismo do futebol nacional.
Ao mesmo tempo, as manobras políticas articuladas nas recentes quedas de Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero para que o status quo fosse mantido não estão funcionando no "Caboclogate". Muito pelo contrário. Encorajados pelo vácuo no poder e pela força da opinião pública que enxerga na CBF uma "inimiga" dos torcedores, os clubes se fortaleceram.
Ainda não é o momento de se cravar a ruptura, mas ela está no horizonte caso não haja flexibilidade de CBF e federações nas negociações e no aceite das novas condições pleiteadas pelos clubes.
Estaduais com condições diferentes para os grandes, respeito inegociável às datas-Fifa, negociações coletivas de algumas propriedades, novo calendário...
A "revolução" mal começou.
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