Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Uma vez, duas vezes seguidas, Flamengo
Pode não ter sido com tanta facilidade, pode não ter sido com futebol empolgante, pode não ter sido com tantos adjetivos como em 2019, mas foi. De novo.
E como foi?
Sem torcida, sem Maracanã, sem "vapo" e com uma derrota na última rodada (e um gol impedido anulado do Inter nos acréscimos contra o Corinthians).
Se na temporada passada, o Flamengo não deu chance aos adversários, empilhou recordes e vitórias, levantou a taça com 4 rodadas de antecedência e deixou um abismo entre si e o segundo colocado, desta vez foi o Flamengo que precisou correr atrás dos seus concorrentes. Com sustos, com crises, com troca de técnicos, com derrotas inesperadas, o Flamengo liderou apenas 2 das 38 rodadas do Brasileiro: as duas que definiram a taça.
E é isso que importa, senhoras e senhores, aos vencedores. Só isso.
Tão questionado, com começo bem mais instável (com duas doloridas eliminações) do que suponha qualquer um que avaliasse o elenco do Flamengo, Rogério Ceni tem sim sua assinatura neste sprint vencedor nas últimas rodadas: 5 vitórias em 7 jogos. Arão na zaga tem a assinatura de Rogério. Diego bem resolvido como "volante"? Assinatura de Rogério. CTRL C, CTRL V do ataque de Jorge Jesus? Acerto de Rogério em admitir que inventar nem sempre é necessário.
A assinatura final de Rogério, com requintes de crueldade para os são-paulinos, foi a volta olímpica quase natural no Morumbi. Tão natural como apontar Gabigol como a cara do título 2020. Decisivo, visceral: poucos jogadores sentiram tanto a falta da torcida nas arquibancadas como ele, que turbina a sua performance nos decibéis da magnética. Gabigol, no silêncio ensurdecedor dos estádios vazio de um país que vela mais de 250 mil mortos pela COVID-19, deu mais um Brasileiro ao Flamengo. E ainda assim não foi o craque da competição que maltratou os clubes, maltratou ainda mais os protagonistas.
Não queiram achar legado no torneio mais agonizante dos últimos tempos. Não cobrem do campeão. Parabenizem o campeão.
O Covidão-20 saiu do papel como um pacto entre as partes de fazer o show continuar. Ninguém que aceitou fazer voltar o futebol como se não estivéssemos enfrentando a pior pandemia em 100 anos, ninguém que insistiu em retomar TODOS os torneios em um calendário ainda mais apertado do que o péssimo do velho normal, ninguém que decidiu que o dinheiro precisava ser priorizado queria um campeonato que arrancaria suspiros das arquibancadas virtuais.
O fato de os mesmos dirigentes terem agido durante o torneio como se não fosse esse o acordão não muda os fatos. Não muda inclusive a notícia que fica: uma vez, duas vezes seguida, Flamengo!
Parabéns, rubro-negros!
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