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Marília Ruiz

Marília Ruiz: Sobre vexames e os dias seguintes

15/08/2020 11h43

O que vai restar do 8 a 2 histórico que o Barcelona levou ontem do Bayern de Munique?

Memes? Demissão do técnico? Diáspora de um elenco que há anos dá sinais de saturação? Diretores afastados? Mais uma fase depressiva do melhor jogador que eu vi jogar?

Imagino que um mix de tudo isso. E, ainda assim, o que vai sobrar desse pesadelo são duras cicatrizes no torcedor.

Eis uma verdade que só quem é torcedor vai entender: a dor da vergonha é fardo que a só a torcida carrega eternamente. Quem perde? Quem torce. Quem sofre? Quem torce. Quem sente vergonha? Quem torce.

Sim, há sempre um jogador ou outro que ficam marcados por derrotas, e eu não estou dizendo que essa marca não causa danos na sua vida, mas aqui trato da dor de amor, da dor que só o amor incondicional e unilateral causa. Clube algum ama seu torcedor (ainda que alguns sejam gentis com os seus). Clubes ganham e arrecadam. Clubes são as como deuses do Olimpo: cultuados, imortais e dispostos numa hierarquia. E o torcedor? O torcedor, pobre mortal, fica responsável em manter os altares postos, o culto vivo e o amor inabalado.

O bem acostumado torcedor do Barcelona não é diferente disso.

Minha solidariedade.

Enquanto isso, vocês da imprensa podem publicar com o mapa de calor do Suarez no círculo central dando saída de bola, podem ter suas várias teses sobre a acachapante vitória dos alemães, podem inclusive, como já li, empurrar parte da culpa para o Messi... Ah, sim, está liberada a falação sobre a saída do confuso, arredio e digamos pouco brilhante (fui gentil porque o dia é duto) Setién. Só não podem dizer que falar sobre a demissão dele com menos de um ano de trabalho é precipitada. Por favor, senhores, tenhamos compaixão de quem realmente sofre.