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Desabafo de nº 3 do mundo do tênis comove a acende alerta para o esporte

A saúde mental deixou de ser um tabu no esporte de alto rendimento — e os desabafos públicos de grandes nomes têm sido fundamentais neste processo. O mais recente veio do alemão Alexander Zverev, atual número 3 do mundo no tênis, que, na última terça-feira (1), fez um forte e comovente relato após a eliminação precoce na primeira rodada de Wimbledon.Em entrevista à imprensa, o tenista de 28 anos revelou que vem travando uma luta mental desde a final do Australian Open, quando acabou derrotado pelo número 1 do mundo, o italiano Jannik Sinner.

"Tenho lutado mentalmente. Venho dizendo isso desde o Australian Open. Estou tentando encontrar maneiras de sair desse buraco. Mas, de alguma forma, acabo sempre voltando para ele", desabafou Zverev.

O alemão disse ainda que não tem conseguido mais se alegrar com vitórias e que tem faltado motivação em sua vida. Ao ser questionado se consideraria buscar ajuda psicológica, ele respondeu que talvez estivesse precisando disso pela primeira vez.

"Talvez, pela primeira vez em minha vida, eu provavelmente precise (fazer terapia). Passei por muitas dificuldades na mídia e na vida. Nunca me senti tão vazio assim."

A declaração de Zverev teve grande repercussão e reacendeu o debate sobre a importância da saúde mental no esporte de alto rendimento.

João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista de Psicologia no Esporte, o aspecto mental é a base que sustenta toda a estrutura de um esportista profissional.

"No triângulo da preparação esportiva, temos a parte física de um lado, a técnica do outro, e, na base, a parte mental e emocional. É preciso fortalecê-la desde as categorias de base, para que o atleta suporte a pressão da carreira, a cobrança da mídia, a expectativa da torcida e a rotina exaustiva de treinos, jogos e viagens", destaca o psicólogo.

A psicóloga esportiva Carolina Reis, que atua com os jovens atletas do Ibrachina FC - clube fundado em 2020 e um dos principais formadores de atletas do futebol paulista - reforça a urgência de olhar para o ser humano por trás do uniforme e do desempenho.

"Mais uma vez, vemos um atleta de elite falar sobre saúde mental. Olhamos para o comportamento e deixamos de perceber as emoções e os pensamentos do ser humano. Atletas travam batalhas mentais diárias, batalhas silenciosas, pois se compartilharem seus pensamentos, a armadura do gladiador cairá por terra e os bárbaros (julgadores de plantão) arrancarão sua cabeça como troféu. Frases como 'ele tem cabeça fraca', 'é preguiçoso', 'desista', 'você não é bom o suficiente', são comuns. Diariamente, o atleta trava uma batalha em sua mente, um cárcere mental que gera pensamentos destrutivos. Quase ninguém percebe essa luta silenciosa, e falar sobre o assunto é visto como sinal de fraqueza", explica.

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A especialista alerta que o adoecimento mental começa sutilmente, quase imperceptível.

"Quando o atleta percebe, está tomado pelo fantasma do desânimo. O amor pelo esporte vai enfraquecendo até o ponto dele não se reconhecer, e esse sentimento de vazio grita lá dentro. Combater essa intimidação interna e externa é um grande desafio. Se reencontrar é fundamental. Se conectar com o momento em que o atleta se perdeu é o caminho para resgatar essa pessoa que grita por ajuda. Sem o auxílio de um psicólogo do esporte, este resgate será mais difícil e, em alguns casos, irreversível", acrescenta.

O advogado Higor Maffei Bellini, especialista em direito desportivo, alerta que manter um atleta que está passando por um momento difícil, com a sua saúde mental prejudicada, pode, inclusive, aumentar o risco de lesão.

"A saúde mental deve ser tratada com a devida importância para garantir o bem-estar a longo prazo, evitando o famoso 'jogar no sacrifício', que pode ter consequências muito mais duradouras que as físicas", afirma. Especialistas da área jurídica também lembraram que cuidar da saúde mental é compromisso também do empregador e que o esporte tem deveres com o atleta.

Terceiro do ranking da ATP, Zverev acabou eliminado de Wimbledon, na última terça-feira, pelo 72 do mundo, que nunca havia passado da terceira rodada de um torneio de Grand Slam. O alemão foi derrotado por Rinderknech por 3 sets a 2, com parciais de 7/6(3), 6/7(8), 6/3, 6/7(5) e 6/4, em uma partida disputada em dois dias, devido ao toque de recolher do torneio.

Zverev chegou ao top 10 do tênis em maio de 2017 e assumiu a vice-liderança do ranking em junho de 2022. Em maio de 2023, caiu para a 27ª posição, mas se recuperou em setembro, até chegar novamente ao segundo lugar um ano depois, no fim de 2024. Desde então, o tenista entrou em uma luta incessante pelo sonhado primeiro lugar, que nunca chegou.

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