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A camisa que atravessou a guerra: Bohemian FC e sua missão humanitária

A imagem correu o mundo: a ativista Greta Thunberg, conhecida por sua atuação em defesa do meio ambiente e dos direitos humanos, vestia a camisa do Bohemian FC durante uma missão humanitária voltada ao socorro de civis palestinos feridos em Gaza. A cena viralizou e chamou a atenção de milhares de pessoas para um clube até então desconhecido fora da Irlanda — mas que há anos se posiciona com firmeza em pautas sociais e humanitárias.

Em 2024, o Bohemian Football Club, de Dublin, lançou uma camisa especial com a inscrição "Palestine" e o mapa da região, em parceria com a ONG Human Appeal. Toda a renda foi destinada ao custeio médico de palestinos atingidos pelos conflitos. O uniforme não era apenas uma peça esportiva: era um grito por dignidade em meio ao silêncio da maioria dos clubes e entidades esportivas internacionais.

É importante lembrar que esporte e direitos humanos não estão em campos separados. O próprio Direito, em sua origem moderna, é construído sobre a afirmação e consolidação de direitos humanos. Quando um clube de futebol assume uma postura ativa em defesa da dignidade humana, ele está exercendo não apenas responsabilidade social — mas também um dever ético e jurídico. Essa conexão está expressa em documentos fundacionais do esporte mundial, como a Carta Olímpica, que afirma que a prática esportiva é um direito humano, e o Estatuto da FIFA, que proíbe discriminação de qualquer tipo e reconhece a função social do esporte como promotora de igualdade, paz e inclusão.

Mais do que previsão formal, essas diretrizes têm ganhado contornos normativos e práticos nos últimos anos, com exigências crescentes de due diligence em direitos humanos para federações, patrocinadores e até organizadores de megaeventos esportivos. Grandes competições passaram a ser cobradas por sua responsabilidade com condições de trabalho, liberdade de expressão e impactos socioambientais. O esporte, antes visto como território neutro, é hoje cobrado — com razão — como agente de transformação social.

Fundado em 1890, o Bohemian não é apenas um dos clubes mais antigos da Irlanda — é também um dos mais engajados politicamente. Nos últimos anos, a equipe tem se posicionado com firmeza contra o racismo, a xenofobia e outras formas de discriminação. Seja por meio de campanhas de conscientização, apoio a refugiados ou ações antirracistas em jogos e nas redes sociais, o Bohemian vai na contramão da ideia de que clubes de futebol devem "ficar fora da política".

Em 2020, o clube lançou uma camisa com a inscrição "Refugees Welcome", cuja arrecadação foi revertida para projetos de acolhimento de imigrantes e solicitantes de asilo. Em outra ocasião, estampou o rosto de Bob Marley em uma homenagem à sua apresentação histórica no estádio Dalymount Park — gesto que se desdobrou em uma discussão sobre cultura, resistência e inclusão no esporte. Para o Bohemian, a camisa não é só manto: é manifesto.

O engajamento também está nas arquibancadas. Torcedores do clube frequentemente se envolvem em movimentos sociais locais, e o estádio virou espaço para eventos de conscientização e apoio a minorias. O clube ainda mantém programas de integração para jovens em situação de vulnerabilidade e ações educativas em escolas, unindo futebol, cidadania e direitos humanos.

O Bohemian FC talvez não dispute as principais competições europeias, mas tem conquistado outro tipo de reconhecimento: o de um futebol que ousa tomar partido — do lado da empatia, da justiça e da dignidade humana. Num tempo em que muitas instituições esportivas optam pelo conforto da omissão, o clube irlandês prova que assumir posições pode ser não apenas necessário, mas transformador.

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