Lei em Campo

Lei em Campo

Siga nas redes
OpiniãoEsporte

Nova gestão na CBF começa sem unanimidade: isso é sinal de esperança !

A ausência de vários clubes e da Federação Paulista na eleição de Samir Xaud e chapa para comandar a CBF foi lida por muitos como um problema. Eu vejo de forma diferente. Para mim, é um sinal de maturidade — e até de esperança. A unanimidade, nesse tipo de processo, raramente é virtude. Muitas vezes, ela mascara acordos silenciosos, trocas de favores e ausência de debate.

A discordância, por outro lado, fortalece a vigilância. E, diante de um cenário de maior cobrança, a nova gestão da CBF se vê obrigada a agir com mais responsabilidade, transparência e compromisso com as promessas feitas. O espaço para erros e retrocessos é cada vez menor.

Essa gestão, formada também por figuras que estiveram afastadas das últimas administrações e por novas lideranças regionais no futebol, representa uma oportunidade concreta de romper com velhas práticas. Outras regiões do futebol brasileiro ganham voz. E isso é oxigênio. Pode ser justamente esse grupo o responsável por inaugurar uma nova cultura de governança no futebol: mais profissional, mais ética e mais conectada aos verdadeiros interesses do esporte. Aliás, foi a promessa de Samir na primeira fala como presidente.

Vale lembrar: os últimos quatro presidentes da CBF foram afastados antes do fim dos mandatos - TODOS foram eleitos por unanimidade (daria para colocar também Ricardo Teixeira que renunciou ao cargo após 23 anos por denúncia de corrupção). Romper com essa lógica de instabilidade e descrédito institucional é um dos grandes desafios do futebol brasileiro. Não se trata apenas de trocar nomes, mas de transformar culturas e estruturas. Trabalhar para proteger a instituição é o caminho necessário para completar o mandato, sair pela porta da frente e deixar um legado.

Criticar a presença de nomes que já integraram gestões anteriores ignora a complexidade do sistema associativo. O próprio Reinaldo Carneiro Bastos foi vice-presidente na gestão eleita de Ednaldo Rodrigues. Em estruturas como a da CBF, um rompimento total é raro -- e nem sempre desejável. O fundamental é que a união esteja pautada por um compromisso real com mudanças.

O discurso de posse mencionou essa nova gestão e suas práticas, prometendo um novo rumo para o nosso futebol. No entanto, entre o discurso e a prática, há desvios pelo caminho. Somente com o tempo veremos se as decisões tomadas realmente conduzirão a uma nova CBF.

Quanto à interferência de Brasília, quem conhece o futebol sabe que todas as gestões anteriores também mantinham a capital no radar. A CBF é uma associação que, pela sua relevância, tem natureza jurídica e legitimidade para se relacionar institucionalmente com os poderes públicos. A diferença está em como isso é feito. À medida que o movimento associativo se fortalece com legitimidade interna e estabilidade, essas relações se tornam mais pontuais, técnicas e institucionais — e menos políticas.

Mas além de reencontrar uma instabilidade perdida com processos mais transparentes e legítimos, é preciso ir além. Um outro desafio do futebol brasileiro está em garantir a participação efetiva de clubes e atletas dentro da cadeia associativa. E isso não ocorrerá apenas por boa vontade institucional. Depende de ações legítimas, articuladas e coletivas, capazes de exercer mecanismos reais de pressão. É assim que se rompe o ciclo de decisões verticais e desconectadas da base do esporte.

O futebol brasileiro precisa com urgência de um novo modelo de governança: ético, transparente e aberto ao diálogo. A presença crítica dos clubes — ainda que ausente fisicamente — é parte essencial desse processo. Quando o sistema deixa de ser automático, todos precisam refletir antes de decidir. E isso, sim, é um avanço. Um oxigênio para vencer a desesperança.

Continua após a publicidade

Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo

Seja especialista estudando com renomados profissionais, experientes e atuantes na indústria do esporte: Pós-graduação Lei em Campo/Verbo em Direito Desportivo - Inscreva-se!

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.