Cassio, Tite e quem mais? Saúde mental no esporte exige atenção urgente
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Após a vitória do Cruzeiro sobre o Vasco, por 1 a 0, no último domingo (27), no Parque do Sabiá, em Uberlândia, pela 6ª rodada do Campeonato Brasileiro, o goleiro Cássio chorou fez um forte desabafo.
Assim que o árbitro Rafael Rodrigo Klein encerrou a partida, as câmeras de transmissão flagraram Cássio indo às lágrimas. Na saída do gramado, o goleiro justificou a emoção por causa das críticas recebidas depois da derrota para o Palestino, pela Sul-Americana.
"Glória a Deus por tudo, porque ele nos dá força nos momentos mais difíceis. A gente é ser humano, erramos e acertamos. Não erramos porque queremos. Nunca fui de me omitir sobre as coisas, mas a gente vive momento em que as pessoas se preocupam mais em dar pedradas na gente, tentar humilhar as pessoas do que crescerem. Vamos ficar doentes, o ser humano está ficando doente", disse o goleiro.
A declaração do goleiro reacendeu um importante e necessário debate no esporte: a saúde mental de quem trabalha com esporte. Recentemente, Tite também anunciou um período de afastamento para cuidar da saúde.
A saúde mental dos atletas de alto rendimento passou a ser um assunto discutido com maior frequência nos últimos anos, principalmente após o emblemático caso envolvendo a ginasta norte-americana Simone Biles, que decidiu abdicar de participar dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, por conta da instabilidade emocional que passava na época.
Segundo João Ricardo Cozac, psicólogo e presidente da Associação Paulista Psicologia no Esporte, a parte mental e emocional é a base de um atleta.
"No triângulo da preparação esportiva, de um lado temos a parte física, do outro a parte técnica, e a base dessa pirâmide é a parte mental e emocional. Tanto nas categorias de base como no profissional, é preciso fortalecer os atletas para encarar as pressões da carreira profissional, a expectativa da mídia, da torcida, para poder dar conta de uma rotina bastante cansativa de jogos, treinos e viagens", ressalta o especialista.
A psicóloga esportiva Carolina Reis, que atua com os jovens atletas do Ibrachina FC - clube fundado em 2020 e um dos principais formadores de atletas do futebol paulista - destaca a importância da psicologia no esporte em meio à pressão por resultados positivos.
"Mais uma vez vemos um atleta referência em nossa nação falar de saúde mental, o Cassio nos alerta. Se observamos bem, todo o ser vivo está num continuum de saúde e doença, momentos que estamos saudáveis, momentos que nos sentimos saudáveis, momentos que nos sentimos doentes, momentos que estamos doentes. Quando falamos de saúde mental no esporte, costumo usar o termo 'redução de danos' pois o atleta busca o máximo de sua performance, altas cobranças por resultado, suas ações precisar ser impecáveis, os erros em alguns cenários são imperdoáveis, a pessoa que vem antes do atleta, aquele indivíduo não é visto e muitas vezes suas necessidades são negligenciadas, falar sobre saúde mental no esporte ainda é um tabu, muitos desconhecem a função do Psicólogo do Esporte", afirma.
Segundo a especialista, a saúde mental precisa deixar de ser negligenciada.
"Estamos para compreender e analisar os aspectos cognitivos e emocionais antes, durante e após a prática esportiva, auxiliando os atletas e demais envolvidos na prática esportiva a perceber como os fatores psicológicos afetam o desempenho do atleta de maneira individual e coletiva. Podemos escolher como olhar para este ser humano que está para o resultado. Sim, nossos atletas estão adoecendo, nossos atletas precisam ser ouvidos sem julgamento, a saúde mental precisa deixar de ser negligenciada, infelizmente este assunto ainda é um tabu, ainda é tratado com preconceito. É preciso olhar com urgência para os sintomas que os nossos atletas têm vivenciado em seu dia a dia", acrescenta Carolina Reis.
Importante lembrar que a Lei Geral do Esporte (LGE), em seu artigo 99, §1º, II, c exige dos clubes formadores a oferta de assistência psicológica aos atletas. Da mesma forma, os clubes, como empregadores, também têm obrigação legal de cuidar da saúde emocional dos empregados.
O advogado Higor Maffei Bellini, especialista em direito desportivo, alerta que manter um atleta que está passando por um momento difícil, com a sua saúde mental prejudicada, pode, inclusive, aumentar o risco de lesão.
"A saúde mental deve ser tratada com a devida importância para garantir o bem-estar a longo prazo, evitando o famoso 'jogar no sacrifício', que pode ter consequências muito mais duradouras que as físicas", acrescenta.
A psicologia no esporte não deve ser vista como um luxo. Ela é uma ferramenta essencial para ajudar o atleta a desenvolver resiliência emocional, lidar com fracassos e superar traumas que podem surgir ao longo de sua carreira.
Um exemplo é o relato do ex-jogador Diego Ribas, ídolo do Flamengo, que foi incentivado pelo técnico Jorge Jesus a buscar terapia como parte de seu treinamento. Apesar de inicialmente resistir à ideia, Diego reconheceu que esse trabalho foi fundamental para se tornar um jogador mais equilibrado e preparado para os desafios da profissão.
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