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Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Após atletas esconderem patrocinadores, Uefa reage. Tem caminho para punir?

18/06/2021 08h30

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Por Gabriel Coccetrone

Nos últimos dias, uma atitude se repetiu entre os jogadores que disputam a Eurocopa. Iniciada por Cristiano Ronaldo, atletas seguiram a ação do craque português e retiraram garrafas de refrigerantes e cervejas, patrocinadoras da competição, durante entrevistas coletivas. A atitude não foi bem aceita pela Uefa, que emitiu um comunicado às seleções ressaltando que "os patrocinadores são essenciais para a concretização do torneio".

"A Uefa lembrou às equipes participantes que os patrocinadores são essenciais para a concretização do torneio e para garantir o desenvolvimento do futebol em toda a Europa, incluindo para jovens e mulheres", disseram organizadores do torneio à 'Reuters'.

Acordos comerciais são feitos em todas as competições esportivas e junto com eles há uma série de exigências que precisam são cumpridas por seus participantes. No entanto, isso não aconteceu na Eurocopa.

"O pacote de regulamentos da Liga de Nações da Uefa - que inclui um regulamento específico para tratar questões comerciais - parte do pressuposto de que a entidade é a detentora exclusiva de todos os direitos comerciais e de mídia da competição. Neste contexto, ela estabelece uma série de exigências para que as associações participantes do torneio e seus respectivos membros (jogadores, técnicos e diretores) observem, visando a integridade de seus acordos comerciais", explica Marcel Belfiore, advogado especializado em direito desportivo.

Caso haja descumprimento dessas obrigações comerciais por parte de jogadores, como ocorreu com Cristiano Ronaldo, Pogba e outros, as federações podem ser punidas pela Uefa.

"No caso em questão, que envolve a conduta de um jogador que pode ter causado prejuízo a um patrocinador da competição, poderia a UEFA considerar impor alguma sanção à federação que, por sua vez, poderia considerar impor alguma punição ao atleta envolvido, responsabilizando-o pela infração. Mas tudo isso dependerá, evidentemente, de uma análise comercial dos impactos que eventual punição poderá trazer à imagem da competição e do patrocinador, que poderiam ir além dos impactos já causados pelo ato do jogador", avalia Marcel Belfiore.

Tudo começou na última segunda-feira, 14 de junho, com Cristiano Ronaldo. O atacante mudou as garrafas de Coca-Cola do lugar ao se sentar na mesa para conceder coletiva de imprensa na véspera da partida de estreia de Portugal contra a Hungria. Além disso, o camisa 7 pegou uma garrafa de água, olhou para as câmeras e disse 'água', dizendo de certa forma que o certo seria ingerir aquela bebida e não o refrigerante.

Um dia depois, o meia Paul Pogba seguiu o mesmo caminho do português e tirou uma garrafa de cerveja da Heineken, também patrocinadora da Euro, de sua frente para conceder entrevista coletiva após a vitória da França sobre a Alemanha.

Como se não fosse bastante, o volante italiano Manuel Locatelli, autor de dois gols na vitória da Itália contra a Suíça, também mudou a posição das garrafas de Coca-Cola na coletiva. O jogador, eleito o melhor em campo, seguiu Cristiano Ronaldo e colocou uma garrafa de água na sua frente antes de iniciar a conversa com a imprensa.

"Não tenho dúvidas de que o contrato de patrocínio celebrado entre as marcas e a Uefa contenha uma série de regras que talvez tenham sido descumpridas pelos jogadores. O ponto é que a solução para o descumprimento contratual, via de regra, envolve uma multa que pode ou não ser compensatória", afirma Tiago Gomes, advogado especialista em direito comercial.

Porém, muitas vezes essas marcas preferem não entrar em conflito com personalidades do tamanho de Cristiano Ronaldo e Pogba, buscando evitar danos ainda maiores para sua imagem.

"Vale a pena para a empresa buscar um embate com um ícone global como o Cristiano Ronaldo por conta disso?", questiona Tiago Gomes.

Apesar das marcas não terem se pronunciados sobre os casos, a Uefa tomou à frente e enviou um comunicado para as seleções relembrando-as das obrigações contratuais que elas têm com os patrocinadores da Eurocopa.

Os atletas precisam se conscientizar de quanto seus gestos incentivam pessoas e podem trazer consequências imediatas. Imagina se atitudes como essas se tornarem rotinas?

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