Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Se não ouvimos ciência, ouçamos Lisca e Abel. Futebol não é mundo paralelo
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Andrei Kampff
Não ouvirmos a ciência já faz parte do nosso DNA. A esperança é que quem saiba ouçamos os protagonistas do jogo. Abel Ferreira e Lisca gritaram contra o absurdo e isso tem reverberado. A pandemia deveria obrigar as entidades a rever não só a continuidade dos campeonatos, como também mudar o calendário brasileiro.
A verdade dura e triste é: o futebol não só tem contaminado pessoas, tem matado também. Roberto Ciccivizzo, vice-presidente da Federação Paulista de Futebol, foi até a Argentina trabalhar na final da Copa Sulamericana e nem voltou paro o Brasil depois de ser contaminado. Ruy Scarpino, Marcelo Veiga e quantos outros do futebol foram vítimas fatais da doença.
Desabafou o Lisca: " Nosso país parou, gente. Não tem lugar nos hospitais, eu estou perdendo amigos, amigos treinadores. É hora de segurar a vida. Aqui no Mineiro tudo bem, é mais perto, mas como vão levar uma delegação do norte para o Sul. Presidente Caboclo, pelo amor de Deus, Juninho Paulista, Tite, Cléber Xavier, autoridades. Nós estamos apavorados "
Abel Ferreira provocou uma reflexão : "Quando cheguei aqui (ao Palmeiras), fiquei um bocadinho espantado, porque na Europa, pelo menos em Portugal, tivemos dois lockdowns, com todo mundo ficando em casa e só saindo para comprar alimentos essenciais. E, quando cheguei ao Brasil, vi que as regras tinham que ser mais apertadas" E foi além: "A vida esta acima do futebol".
Muitos estão assustados com o retorno. Eu conversei com vários atletas e técnicos nesses dias. Todos disseram que existe um clima de insegurança, e que o protocolo não tem dado a tranquilidade que eles imaginavam que seria possível.
São vários casos de atletas testando positivo no dia seguinte a jogos. Não existe protocolo que garanta segurança com os deslocamentos e sem o real isolamento dos atletas.
Num país continental, e com viagens semanais, o risco de contaminação é muito grande como se tem visto desde que a bola voltou a rolar nesse período pandêmico.
O único caminho seria definir sedes e colocar atletas em "bolhas", assim como foi feito na NBA, por exemplo. Para não privá-los do convívio familiar por tanto tempo, poderia se estipular visitas periódicas dos familiares que seguiriam também um protocolo. Deslocamentos entre cidades que possam ser feitos de ônibus é algo que também pode ser estudado.
Mas e como fazer com a Copa do Brasil e Estaduais? Não dá.
Teria que mudar calendário.
Em uma crise, todos perdem. É preciso entender e diminuir as perdas.
São ideias.
E todas pensando na saúde dos atletas, sem entrar em questões caras ao esporte mas que se tornaram menores em função dessa realidade inimaginável, como a isonomia entre os competidores (essa já sofreu danos em todos os lugares do planeta).
A CBF sempre disse que o diálogo é permanente para aperfeiçoar o protocolo. Por que não discutir também o calendário? Os atletas e técnicos precisam falar.
E é importante que CBF e também os clubes escutem as palavras de Abel e Lisca, afinal eles têm o dever legal de proteger a saúde dos atletas.
O que diz a lei
Já escrevi aqui Lei em Campo que é um erro achar que o atleta e técnico são obrigados a jogar no meio de uma pandemia como a que estamos vivendo. Não são.
Claro que o Ministério Público do Trabalho está de olho e deve agir..
Se o atleta se sentir inseguro, os protocolos não forem claros e as autoridades de saúde indicarem a necessidade de manter o isolamento, ou houver risco claro a saúde dele, o jogador tem respaldo jurídico para não voltar a trabalhar.
A Constituição Federal, no art. 7º, XXII, prevê como direito do trabalhador a "redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança". Além disso, a legislação é transparente ao determinar que o empregador (clube) é responsável pela saúde e integridade de seus empregados (atletas). Isso está previsto também na Lei Pelé e na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).
O diálogo é indispensável.
Mas é fundamental não esquecer que a prioridade número 1 será sempre a saúde de todos, como já disse Gianni Infantino, presidente da FIFA, e também Rogério Caboclo, presidente da CBF.
Bolhas ou parar o futebol. Rediscutir calendário. Não vejo outra saída. Por mais difíceis que sejam os caminhos, eles são muitos melhores do que ser cúmplices na perda de vidas.
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