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Após boicote na NBA por violência racial, jogadores podem ser punidos?

27/08/2020 04h00

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Por Gabriel Coccetrone

Revolta. Esse é o sentimento de grande parte dos jogadores que atuam na NBA. Um boicote histórico marcou o mundo do esporte nessa quarta-feira (26). O jogo 5 dos playoffs do Leste entre Milwaukee Bucks e Orlando Magic não aconteceu. A equipe do Bucks liderou o movimento e não entrou em quadra, permanecendo no vestiário até o adiamento oficial da partida.

O motivo é um velho e atual problema dos Estados Unidos, a violência policial contra negros. No domingo, Jacob Blake, um homem negro, de 29 anos, foi baleado com sete tiros à queima-roupa pelas costas por policiais brancos durante uma abordagem, em Kenosha, no estado de Wisconsin. Assim como no caso de George Floyd, a cena foi gravada e compartilhada nas redes sociais, o que gerou indignação nos jogadores que já não estavam 100% felizes e motivados pelo retorno da competição na 'bolha' de Orlando.

Os jogadores de Milwaukee Bucks, única equipe do estado de Winsconsin na liga, com respaldo dos proprietários da franquia, lideraram o movimento e se recusaram a entrar em quadra. Jogadores adversários parabenizaram, por meio das redes sociais, a iniciativa e endossaram o movimento.

Apesar de absurdas, punições e multas a franquias e jogadores já foram aplicadas por conta de manifestações dessa natureza. No entanto, para o advogado especialista em direito esportivo, Vinicius Loureiro, nesse caso não haverá qualquer tipo de punição aos Bucks pela atitude.

"Falar em punição nesse caso não faz sentido, já que foi a própria NBA que adiou os jogos. A equipe adversária, o Orlando Magic, já havia informado que não aceitaria eventual vitória nessa partida por conta do ato, ainda que tenham ido à quadra antes do início do jogo", avaliou Loureiro.

"A discussão acontece de forma ampla. Os próprios patrões dos Bucks apoiaram os atletas. Não se trata de punir os atletas. Estamos vendo algo histórico no esporte. As demandas dos atletas parecem ensejar ações concretas. Estiveram reunidos com os principais atores políticos do Estado e é possível que a ameaça do fim da NBA pressione ainda mais as discussões", afirmou o advogado especialista em direito esportivo Vinicius Calixto.

Recentemente, durante a onda de protestos pelo caso George Floyd, diferentes jogadores da NBA se posicionaram sobre o tema e participarem das intensas manifestações de rua nos Estados Unidos. A NBA, de forma inédita e por pressão dos jogadores, também adotou a campanha de combate ao racismo em seus jogos e estampou mensagens antirracismo e a favor de justiça social em seus espaços mais importantes: nas camisas dos jogadores e na quadra. Mensagens como Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), Equality (igualdade), Freedom (Liberdade), Justice (justiça), entre outras, estão presentes nas partidas. Os jogadores também se ajoelham no início do hino nacional antes das partidas como forma de combate ao racismo.

O advogado e também especialista em direito esportivo, Igor Serrano, analisou o boicote:

"A maioria das entidades esportivas tem pessoas brancas no comando e não costumam a dar a real dimensão ao que é o racismo. Enquanto essas não reconhecem a própria branquitude, de posição privilegiada numa sociedade estruturada na desigualdade racial, a discussão acaba sendo forçada justamente a quem sofre. Vejo como legítimo e necessário os protestos dos atletas e o boicote da equipe, como forma de chamar a atenção do mundo e confirmar que o caso George Floyd não foi algo isolado. Da mesma forma que jovens negros periféricos são assassinados diariamente no Brasil. Se tentam silenciar quem denuncia o racismo, a comunidade esportiva de certa forma está começando a se acostumar que não tem mais o poder de não trazer para sua pauta as questões sociais de seu entorno, pois um é espelho do outro".

O ex-jogador e comentarista do TNT, Kenny Smith, manifestou-se ao vivo e decidiu abandonar o programa como forma de apoio ao movimento:

"Como um homem preto, e um ex-jogador, acho que a melhor coisa que eu posso fazer é dar suporte aos jogadores e simplesmente não ficar aqui (no programa) nessa noite"

Os jogadores se reuniram ainda na noite de ontem com o procurador-geral de Wisconsin, Josh Paul, e o vice-governador Mandela Barnes antes de deixarem o ginásio. Logo após a reunião, George Hill e Sterling Brown leram o comunicado oficial do time para a imprensa e afirmaram: "Estamos pedindo justiça para Jacob Blake".

A NBA adiou de forma oficial as outras duas partidas, Lakers x Blazers e Rockets x Thunder, que também estavam marcadas para ontem. Hoje mais três jogos estão marcados: Raptors x Celtics, Jazz x Nuggets e Mavericks x Clippers, porém os jogadores já manifestaram a vontade de boicotarem a partida por conta de mais um caso de racismo no país. A Liga Nacional de Basquete Feminino (WNBA), Liga Nacional de Beisebol (MLB) e a Liga Nacional de Futebol (MLS) também tiveram protestos e partidas foram adiadas.

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