Topo

Lei em Campo

O dia em que o Barça perdeu de propósito por medo do Inter e nada aconteceu

20/04/2020 23h06

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O poderoso Barcelona é protagonista de uma maiores vergonhas da história do esporte. Ele e o norte-americano Di Bufala jogaram para perder, e não esconderam de ninguém. Tudo para não enfrentar o Internacional. Um absurdo, que contraria todos os princípios do jogo, mas que não gerou nenhuma punição aos clubes, mas o castigo veio em quadra.

Foi no Mundial de Futsal em 1997. O Internacional era o representante brasileiro na competição que aconteceu em Porto Alegre. Por ter jogadores como Manoel Tobias ( o melhor do mundo na época) e Ortiz, o time gaúcho era considerado favorito.

Barça e Di Bufala estavam no outro grupo e fizeram a última partida da fase de classificação para decidir quem terminaria em primeiro. Acontece, que o Internacional terminou a primeira fase em segundo no seu grupo. Portando, o vencedor do jogo enfrentaria os gaúchos.

A partida seguia igual, 1 a 1, até o finzinho do segundo tempo, quando o absurdo invadiu a quadra. Em uma troca de passes do time catalão, um jogador chuta a bola contra o próprio gol. Em seguida, em um recuo de bola, o goleiro do Barcelona dá um passo para trás e deixa a bola entrar. 3 x 1 Di Bufala.

Com o time espanhol assumindo a atitude antidesportiva, os americanos entraram nesse jogo e o que se viu foram algumas das cenas mais lamentáveis da história do esporte. O time americano chutando contra o próprio gol, e os jogadores do Barça protegendo a meta contrária. Até o goleiro espanhol atravessou a quadra para defender o Di Bufala.

O representante dos Estados Unidos fez um gol contra, anulado pelo juiz que deu cartão amarelo para o jogador. O goleiro tentou jogar a bola contra o próprio gol, e foi expulso. Ninguém do Barça recebeu cartão.

Final, 3 a 1 para o Di Bufala e jogadores do Barcelona comemorando.

Eu trabalhava na época na RBS TV, afiliada da Rede Globo. Ao final do jogo, fui conversar com os dois treinadores, e eles confirmaram que a ideia era perder para não enfrentar o Inter.

Nenhum clube recebeu punição pelas cenas que desrespeitaram a torcida que lotou o Gigantinho, o ginásio do Internacional que recebeu o Mundial organizado pela FIFA.

A graça do esporte está na incerteza do resultado. Se todos soubessem de véspera qual seria o placar de um jogo, o esporte perderia força, e a paixão encolheria.

Por isso vários dos princípios do direito esportivo visam garantir essa imprevisibilidade, como a integridade esportiva, o jogo limpo, e a paridade de armas, que é dar condições iguais aos competidores.

Todos eles visam combater a manipulação de resultado, algo que ficou evidente naquela noite de 15 de março de 1997 em Porto Alegre.

A partida pelo Mundial feriu valores e princípios do futebol.

Os regulamentos esportivos internacionais e nacionais visam proteger a integridade do jogo. O Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) traz o artigo 258, que fala e, assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipificadas pelas outras regras.

Art. 258. Assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipificada pelas demais regras deste Código. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009).

PENA: suspensão de uma a seis partidas, provas ou equivalentes, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, e suspensão pelo prazo de quinze a cento e oitenta dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural submetida a este Código. (NR).

Hoje, uma conduta dessas provavelmente eliminaria os clubes da competição.

Mas a Justiça Desportiva calou diante de uma das maiores vergonhas da história do Barcelona e do esporte.

A justiça se fez em quadra.

Na semifinal o Internacional venceu os norte-americanos, e na final o time de Ortiz e Tobias ganhou do Barcelona por quatro a dois, conquistou o título do Mundial e levantou mais de 16 mil pessoas que lotaram o Gigantinho.

Aliás, o Barcelona tem um problema histórico com o time gaúcho. Em 1982, Maradona estreava na equipe no Torneio Joan Gamper, O Internacional de Mauro Galvão, Ruben Paz e Cléo venceu o time catalão nos pênaltis em um Comp Nou lotado.

E, em 2006, o time de Fernandão venceu o de Ronaldinho Gaúcho no Japão, e conquistou o mundo também no gramado.

Mas de todas essas derrotas, a daquele jogo em Porto Alegre é a que o Barcelona faz questão de esconder. 15 de marco de 1997, um dia que envergonha um dos maiores clubes do planeta, e também o movimento esportivo, que não defendeu princípios fundamentais paro o jogo: a incerteza do resultado, e o respeito ao torcedor.

Nos siga nas redes sociais: @leiemcampo