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Psicologia ajuda atletas a manterem saúde mental durante isolamento social

10/04/2020 04h00

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A pandemia ocasionada pelo novo coronavírus teve um efeito adverso na vida da população mundial. A disseminação da Covid-19 é ainda pior para os atletas. Acostumados a serem proativos e terem espírito competitivo, esse tempo sem precedentes pode causar medo, ansiedade e estresse esmagadores. Para minimizar os impactos na saúde mental, psicólogos estão fazendo atendimento através de plataformas de vídeo e ajudando a reduzir os problemas causados pelo isolamento social.

"O objetivo é ouvir as angústias do atleta a respeito desse momento, além de auxiliar passando estratégias de redução de ansiedade, estresse, aumento do foco, atenção. A sessão é sempre por vídeo. Temos trabalhado muitas técnicas de meditação, mindfulness, para que consigam puxar seu foco de atenção para o presente. Tenho trabalhado muito com eles que eles tenham uma rotina. Não podem sentir que a semana é cheia de domingos. O ideal é que eles tenham horário para acordar, tomar café, comer, ter os horários para treinamento físico, treinamento mental, relaxamento, horas de diversão, bate papo por vídeo com amigos e familiares", explica o psicólogo Daniel Mello.

Embora o novo coronavírus tenha interrompido a temporada, os atletas precisam permanecer ativos e combater os efeitos psicológicos que a quarentena provavelmente terá sobre eles.

"O que acontece é que esses atletas de alto rendimento estão acostumados a treinamentos bastante intensos. E se esquece muitas vezes que eles, ao estarem nessa rotina intensa de treinamento, eles fabricam bastante endorfina, o hormônio do prazer, do bem-estar. E nessa pausa obrigatória eu tenho observado que muitos atletas estão buscando treinamentos em casa. Aqueles que estão acostumados com a prática do exercício físico, que não parem de fazer o exercício físico porque é um excelente método para manter a esperança, a sua resiliência, os bons pensamentos. Então, é muito importante que a saúde mental esteja atrelada à prática de exercícios físicos. Quem faz um trabalho terapêutico psicológico, tem que manter esse trabalho terapêutico.E os que estão em sofrimento, que busquem um atendimento psicológico", alerta o psicólogo do esporte João Ricardo Cozac.

Fazer exercício é uma das alternativas usadas pelo goleiro Fernando Prass, do Ceará. O arqueiro diz que o problema maior durante a crise do novo coronavírus não é a ansiedade, e sim o tédio.

"É preciso ter um tempo sozinho pra tu relaxar. Porque tu acaba ficando em função da casa, dos filhos e tu não consegue ter um uma hora pra respirar fundo e fazer o que tu quiser fazer. Às vezes não fazer nada. Não ter que ficar dividindo o teu tempo com nada. Então, geralmente depois do almoço eu sento na numa poltrona em casa, tomo meu café, mexo no telefone, converso com quem tem que conversar. Eu gosto de treinar e também depois que eu treino, eu me sinto me sinto muito melhor. O exercício produz endorfina. Então ajuda a dar uma sensação boa. Mas claro que a gente sente falta da competitividade, do do dia a dia. Mas eu estou conseguindo levar. Claro que eu tenho as melhores condições aqui. Eu tenho condição de ter um profissional pra me dar treino. Eu tenho uma casa boa. Tenho uma condição boa. Então, pensando na minha situação particular, é um pouco tranquilo", afirma Prass.

Em função do novo coronavírus, Fernando Prass e os companheiros de Ceará, entraram em férias coletivas de 20 dias, de acordo com o que permite a legislação esportiva. Se não estivesse em férias, o exercício em casa em função do isolamento social também seria considerado como trabalho.

"Em tempos normais, não seria. Mas nessa época de pandemia, com orientações das autoridades de saúde de se ficar em casa, a realidade dos atletas fica substancialmente comprometida. É importante observar como esse trabalho é feito. O trabalho precisa adaptar o treino às condições atuais, a clube tem do atleta aquele condicionamento e comprometimento esperados nesse momento atípico", explica a advogada especializada em direito trabalhista Luciane Adam.

É difícil ser atleta neste momento - da competição diária ao isolamento, é uma transição que muitos não teriam imaginado e esperado. Enquanto alguns atletas postam vídeos otimistas de si mesmos treinando ou tentando desafios na Internet, o estresse causado pelo ajuste extremo e pelo futuro incerto parece ter seu preço. E o cuidado agora tem de ser maior para que a saúde mental não seja afetada.

"Aqueles que recebem salários bem menores e têm uma família para cuidar começam ou podem desenvolver um quadro de angústia, de ansiedade, e até de depressão diante das preocupações das contas e das responsabilidades que eles têm", analisa Cozac. "A incerteza de salário afeta a vida de todo mundo. Cada um tem se apoiado onde consegue. Alguns já estão acostumados a lidar com a instabilidade financeira que vem junto, infelizmente, com o fato de ser atleta no Brasil. Outros estão buscando apoio onde conseguem", completa Daniel Mello.

Os efeitos imediatos da pandemia revelam a rapidez com que a Covid-19 abriu as costuras da diferença salarial entre o topo e a base da pirâmide no país, que fica ainda mais escancarado quando comparado com os salários praticados no futebol feminino.

"Essa pandemia pegou todos nós desprevenidos. Assim como todo mundo, nós também temos contas. Literalmente, eu me sinto à deriva porque a gente não tem uma uma resposta concreta do clube. Também temos que ajudar nossos familiares. Eu estou em casa sobrevivendo com a aposentadoria da minha avó. Tendo que pagar aluguel, luz, gás, água e é desesperador porque não tem de onde tirar. E o psicológico também está muito abalado porque se trata do seu trabalho, do seu futuro, sabe. Você vive de incerteza, então o psicológico, sem dúvida, está muito abalado. Não tem de onde pedir ajuda e é difícil", revela uma atleta que joga em um clube do norte do país, e que preferiu não se identificar com medo de represália.

Por Thiago Braga

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