Julio Gomes

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Egito está na Copa. Agora é torcer para não aparecer um Sergio Ramos

O Egito se classificou para a Copa do Mundo pela quarta vez em sua história. Venceu Djibouti por 3 a 0, com dois gols de Mohamed Salah, chegou a 23 pontos, abriu 5 de Burkina Faso e garantiu a primeira posição no grupo A das eliminatórias africanas com uma rodada de antecipação. Agora, é torcer para não aparecer um Sergio Ramos pelo caminho.

Oras bolas, mas o que tem Sergio Ramos a ver com o Egito? Vamos refrescar a memória. Em 2017, o Egito quebrou um tabu de quase três décadas e finalmente se classificou para um Mundial, o da Rússia-2018. Então, o melhor jogador do país já era Salah, que na temporada seguinte, a 18/19, seria um dos principais nomes do Liverpool rumo ao título da Champions League. Antes do título de 19, no entanto, o Liverpool já havia se classificado para a final da Champions 17/18, de forma, podemos dizer, surpreendente.

A decisão entre Real Madrid e Liverpool foi disputada em Kiev, na Ucrânia, no dia 26 de maio de 2018 - portanto, exatos 20 dias antes da estreia do Egito na Copa do Mundo, que seria contra o Uruguai.

O jogo foi marcado pelas falhas bisonhas do goleiro alemão Karius, que ajudaram o Real Madrid a ficar com a taça. Mas um lance muito marcante ocorreu aos 25min do primeiro tempo. Sergio Ramos, capitão do Real Madrid, fez uma falta desleal em Salah, travando o braço do egípcio e obrigando-o a deixar o campo. Ramos sequer recebeu cartão amarelo, em um lance que poderia ter sido até para vermelho (no meu ponto de vista, a expulsão teria sido exagerada).

Um advogado egípcio, à época, anunciou que processaria Ramos e pediria indenização de 1 milhão de dólares - possivelmente tenha sido uma ameaça teatral e não levada a cabo. Mais de um milhão de pessoas assinaram uma petição à Fifa pedindo punição a Sergio Ramos - não teve efeito. E até mesmo lutadores de judô foram ouvidos sobre o tema, dizendo que o "golpe" do espanhol teria sido ilegal até mesmo no tradicional esporte de luta.

A lesão no ombro deixou Salah fora da primeira partida do Mundial - o Egito levou um gol no minuto final e caiu diante do Uruguai. No segundo jogo, ainda que nitidamente fora de ritmo e das condições ideais, Salah começou jogando e fez um gol de pênalti, mas os egípcios perderam por 3 a 1 para a anfitriã Rússia. Já eliminado, o Egito fez a terceira partida contra a Arábia Saudita. Salah abriu o marcador, mas os sauditas venceram por 2 a 1.

No fim, ficou a sensação de que o jogo contra o Uruguai foi decisivo e que, com Salah em campo, talvez o destino da seleção do norte da África tivesse sido diferente no torneio.

Nas eliminatórias para a Copa de 2022, o Egito entrou na disputa como um dos principais favoritos a ficar com uma das cinco vagas. Mas quis o destino que a seleção de Salah estivesse frente a frente no mata-mata com Senegal, de Mané (então companheiro de Liverpool), outra seleção forte da África. Cada um venceu por 1 a 0 em casa e, nos pênaltis, Senegal se garantiu na Copa, deixando o Egito fora.

Os egípcios disputaram as Copas de 1934, 1990 e 2018 e até hoje nunca venceram uma partida - foram dois empates e cinco derrotas no total. Em compensação, no ambiente continental, o Egito é o maior campeão da Copa Africana de Nações, com sete títulos - o último deles em 2010, quando Salah tinha 18 anos e não foi convocado. Ele chegou a ser vice-campeão africano duas vezes, em 17 e 21, e a próxima oportunidade será na virada desde ano, quando Marrocos receberá a próxima Copa Africana.

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São as duas contas pendentes de Salah. Levar o Egito ao título da África e a uma vitória inédita na Copa do Mundo. É torcer para que não apareça um Sergio Ramos da vida pelo caminho. A última notícia que temos do veterano foi sua participação do Mundial de Clubes, pelo Monterrey, do México. Monterrey é sede da próxima Copa. Passe longe dele, Salah!

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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