Julio Gomes

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ReportagemEsporte

Mensagens políticas da torcida de Seattle marcam jogo contra o Botafogo

Faixas e bandeiras foram usadas para que a torcida do Seattle Sounders passasse um recado que não tem a ver com o Mundial de Clubes e, sim, com a situação política atual dos Estados Unidos. Duas bandeiras diziam "anti-racism e anti-fascist". Seria difícil a Fifa fazer alguma coisa em relação a elas. Uma faixa grande, com grafite preto em pano branco, dizia "we are not all here", ou seja, "não estamos todos aqui", em clara referência à política imigratória de Donald Trump e à ausência de torcedores que, por medo ou deportação, não estiveram no Lumen Field para acompanhar a partida contra o Botafogo.

O sábado foi marcado por protestos em todo o país contra o presidente norte-americano. E por todas as partes estrangeiros têm evitado sair na rua - o que dizer então sobre ir a um evento público - por medo de serem presos e deportados. "Sim, tenho medo, mas preciso do dinheiro", me contou Juan, um guatemalteco que estava vendendo cachorros quentes do lado de fora do estádio. Boné apertado na cabeça, voz baixa, ele trabalhava com seu carrinho com uma chapa em cima enquanto o filho de 5 anos anos dormia em uma cadeira tipo de praia ao lado.

A torcida mais, digamos, organizada dos Sounders, formada por umas 400 pessoas, que fica atrás de um dos gols, chegou ao estádio com muitas faixas de protesto. Uma delas pedia a abolição do ICE, a polícia imigratória. Outra, xingava os agentes de imigração em espanhol. A que ficou aberta na arquibancada foi somente a do "não estamos todos aqui".

Importante destacar que a Fifa proíbe mensagens políticas nos estádios de futebol.

Protestos à parte, a torcida do Seattle fez questão de mostrar a política de boa anfitriã ao abrir, antes da partida, um bandeirão em que um rapaz com a camisa dos Sounders faz um brinde com outros vestindo camisas que lembram as do Botafogo, do PSG e do Atlético de Madrid, os três times que jogarão na cidade neste Super Mundial.

A torcida dos Sounders é reconhecida por ser a mais barulhenta dos Estados Unidos. É bacana, simpática, canta bastante mesmo. O resto do estádio tenta acompanhar aqui e ali com uma ou outra palminha. Mas sabem aquela coisa que vem do fígado? Torcer em estádio, para nós, brasileiros, é um treco diferente. Muitas vezes, exagerado. Mas diferente. A felicidade, a raiva. O comportamento é um retrato da alma. Aqui, é só uma torcida. Levou o gol? Puxa, que pena. Tudo bem. Fez um gol? Bacana!

Não à toa, muitos estavam tirando fotos e filmando a torcida do Botafogo. Que ficou lá num cantinho no alto do estádio. Estamos habituados a ver jogos de Copas do Mundo ou finais de jogo único, em que cada torcida fica atrás de um gol. Não foi o caso e, apesar dos enormes vazios, o fato é que a torcida do Glorioso ficou longe do campo. No total, o público foi de 30151 espectadores, menos da metade da capacidade do estádio.

Não havia tanta gente do Botafogo, nada comparado ao que foi visto na partida do Palmeiras e será visto na do Flamengo. A geografia não ajudou, é verdade. Não é moleza vir para Seattle. Os que foram ao Lumen Field, não esquecerão. E se fizeram ouvidos no primeiro tempo. As faixas da "Fúria" e uma que dizia "Ninguém ama como a gente" subiram do "térreo" para o andar de cima para aumentar ali a presença no local em que ficaram os botafoguenses.

O segundo tempo foi de menos cantoria e pura tensão para os botafoguenses. O time parou de jogar e levou pressão até o fim.

Reportagem

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